sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

"Enquanto os Bárbaros Não Voltam", crônica de Pedro Salgueiro para O POVO (26.2.2010)


I-Origens


Desde que cheguei a Fortaleza no início da década de 1980 foram pouquíssimos os feriados que passei na cidade. No início de estudante secundarista ia com a mochila pronta pra última aula, dali pra estação João Felipe ou Rodoviária dos Pobres no Antônio Bezerra. Só retornava no último dia de férias, com lágrima nos olhos... uma saudade imensa do torrão natal, da comidinha da mãe, do zelo do pai, da zoada dos irmãos e primos. A cidade grande sempre foi um exílio, apenas um exílio... quem é do interior vai morrer sendo do interior; mesmo que não reste mais um parente vivo, um amigo de geração... E ainda hoje, quando chega um feriado, me pego juntando as melhores roupas, o tênis menos gasto e arrumando minha mala imaginária. Ainda não me acostumei. Nunca vou me sentir daqui. (Dia desses, visitando meu torrão natal, um velho amigo me disse desolado que só voltava lá pra se desiludir mais uma vez de que a cidade nossa de infância não era mais a mesma, ``jamais vai ser a mesma``... Não tive outra escolha senão concordar com ele: Ela só existe em nossas lembranças.)


II-Bairros


Com o tempo passei a perceber que os bairros funcionam assim como cidadezinhas do interior. Quem é do Montese (eu já fui) às vezes passa anos sem ir a Fortaleza, isto é, ao Centro ou aos outros bairros, quem é da Piedade também, do Mucuripe... Como mudei bastante de bairro durante estes 30 anos de exílio, conheci quase todos eles. Vão se formando pequenas castas e diversos locais, vão se aglomerando por afinidades ou apenas por oportunidades. Aqui no meu distrito da Gentilândia, sede da cidadezinha do Benfica, tem-se as castas mais variadas: a das senhoras que fazem ginásticas na praça de tardinha (entre elas se inclui o magricelo jornalista Tom Barros e um que outro senhor menos machista), a dos sofredores que torcem Ceará do Bar do Manel (antigo reduto do Seu Luis Picas), a dos frenquentadores do antigo Bar do Chaguinha, a fauna diversa do Bar do Assis e outros mais, a dos esforçados ginastas da Academia do Big, a das senhoras que tiram o terço de casa em casa, a dos bebuns inveterados (cujo patrono maior é Zé Bolero, que recentemente entregou o cajado pro Pelezinho), a dos que fazem o carnaval, a dos que apenas se sentam nas calçadas... Há até a dos que trabalham (sic)... Acreditem: também se trabalha na Gentilândia!


III-Vizinhanças


Na contramão de toda a propalada globalização, humildemente proponho que cada vez mais sejamos regionalistas, bairristas!... Ainda mais: ``ruístas``, que cada vez mais nos apeguemos ao aconchego dos mais próximos, do vizinho do lado, do camarada do quarteirão, do vendedor de loterias, do entregador de gás... A impressão que temos é a de que ao tentarmos ser universais nos tornamos vazios, ao querermos ser cada vez mais cidadãos do Estado, do País, do Mundo... mais e mais nos fragmentamos, nos tornamos ninguém... Adoro quando alguém se refere a outro como sendo aquele, sim, aquele gordinho lá da Francisco Pinto, sim, aquele careca que só anda de boné. E cada dia mais detesto quem se refere a alguém pelo título hierárquico, pela ``famosa`` profissão... Sejamos, amigos, portanto, mais intimistas, menos sofisticados... mais compadres que sócios. Amem! Amém!


PEDRO SALGUEIRO é morador há três décadas do distrito da Gentilândia, sede da cidade do Benfica, capital de Fortaleza, localizada no estado do Ceará, que por sua vez é um mísero pedaço do imenso Brasil, emergente país da América Central, do hemisfério Sul, do Planeta Terra, do Sistema Solar, da Galáxia...

Lançamento "Os Países: campanha ultramundos" de Frederico Régis, na Saraiva (03.03)


Os Países (Campanha Ultramundos)

de Frederico Régis

Lançamento

Data: 3 de março de 2010, às 19h

Local: Livraria Saraiva Mega Store – Iguatemi

Contato com o autor (aquisição de livros e outros): frederico@bnb.gov.br

Apoio: Banco do Nordeste


Sobre a Obra: Mais uma obra literária será lançada no cenário cearense. Trata-se do livro de poemas Os Países (Campanha Ultramundos) de Frederico Régis.


Além de propor uma tradução do cotidiano e da vida pela linguagem poética, faz uma reflexão em torno de Os Sertões (Campanha de Canudos) de Euclides da Cunha nos 100 anos da sua morte.


O livro remete a este clássico da literatura brasileira em sua estrutura de capítulos ("A Terra", "O Homem" e "A Luta"), transpondo a problemática do homem urbano e moderno para o cenário de luta da Guerra de Canudos.


Segundo o Poeta de Meia-Tigela, que posfaceia o livro, trata-se, não de ancorar (escorar-se) em Euclides da Cunha, porém de, uma vez tomado este como porto inicial, partir em busca de outras explorações, de outros países... Ainda pelo entendimento do Poeta, se no autor fluminense o caráter jornalístico e etnográfico tem como finalidade o retrato de uma parcela do Brasil e de um tipo de brasileiro — o do sertão e do sertanejo —, o intento de Frederico Régis é universalizar a abordagem, e já não temos um espaço geográfico circunscrito, já “A Terra” não é a terra e o sertão nordestino ou baiano, mas o mundo, marcadamente o urbano; “O Homem” não é o homem que vive naquele espaço restrito e limítrofe, porém o indivíduo humano, sobretudo se cercado pela cidade; e “A Luta” não é a campanha contra Canudos, mas a batalha desse elemento urbanoide contra aquilo que também significaria seu aniquilamento, a saber: seu sucumbimento à capatazia, ao “fim da poesia”.


Os Países também apresenta uma faceta linguística curiosa: o palíndromo. Diversos poemas contêm sentenças que, se lidas de trás para frente, resultam no mesmo significado. Para o palíndromo o que importa não é tanto a semântica, mas a sintaxe. Um exemplo é a frase: "A trufa sem a levedura, à rude vela, mesa furta". O livro é permeado por palíndromos, que lhe enriquecem de imagens pitorescas.


A publicação é patrocinada e editada pelo Banco do Nordeste. As ilustrações são do Ilustrador de Meia-Tigela e do artista plástico Lúcio Cleto. Outro detalhe curioso é a capa, com forte apelo afetivo, relembrando os antigos cadernos Recreio, cuja foto de um pássaro é da autoria do ornitólogo e fotógrafo Ciro Albano .


Sobre o Autor: Frederico Régis, 36 anos, é engenheiro de formação, bancário por sobrevivência e poeta por necessidade. Seus primeiros poemas remontam ao final da década de 1980. Em sua trajetória, motivou-se por diversas tentativas em colocar suas produções à luz, das quais resultaram publicações avulsas de caráter artesanal em pequena tiragem. Foram livros editados e diagramados pelo próprio autor, como: Aparições (2004), Ave e Dor Reta ou: O Aterro de Eva (2002), Além de Queda, Coice! (2001), Passageiro de Cúmulos (1998) e Desabamento (1996).


Por sete anos foi membro do grupo Ceia Literária, onde participou das coletâneas: Ceia Maior, O Lago das Vozes, Cais de Nós e Ceia Literária nº 5.


Tem atuado no cenário literário cearense, participando de recitais de poesia, encontros literários e de antologias diversas.


Em 2007 publicou Minutas do Caos, obra com boa repercussão junto aos leitores e que introduziu a estética do autor no cenário da poesia cearense.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

"Malindrânia", de Adriano Espínola, no Jornal do Brasil


Adriano Espínola constrói alegoria em homenagem a Cervantes

RIO - A história da arte e da literatura registra não raro o surgimento, aqui e ali, de lugares ideais, utópicos, a exemplo da Pasárgada, de Manuel Bandeira, onde “lá sou amigo do rei” ou da Maracangalha, de Dorival Caymmi, para onde “vou com meu chapéu de palha”. E, agora, no território da ficção, descortinamos a Malindrânia, de Adriano Espínola, onde “se persegue o inatingível, ou a beleza que o reflete”.

Malindrânia, a sonhada ilha, na qual o gigante Caraculiambro é vencido pela imaginação de dom Quixote, personagem arquetípico do romance ocidental, aqui reaparece como “um lugar de lutas verbais, duelos e encantamentos”. Jogando com um hábil entretecimento de realidade e sonho, vida e ficção, o autor chega nesta narrativa-título a construir uma muito bem urdida alegoria (e homenagem à escritura), um monumento de metaliteratura, em que expressa, de maneira fulcral, as implicações do real-real e do real-imaginário através da obra básica de Cervantes. Vale-se também de um fio tênue com o histórico, representado pelo cineasta Lindberg Cariman, misto de gente e invenção, e da amarra, em si literária, de Frei Luís de León, ligando Malindrânia à Catedral Vieja, em Salamanca.

Já na primeira narrativa, “As cordas do mar”, em que uma gigantesca tsunami invade o bairro de Ipanema, Espínola surpreende com um clima em que absurdo e surrealismo se misturam a uma percuciente crítica ao caos urbano. Nas águas do mar e do tempo, o personagem sobrenada o lixo circundante do Rio de Janeiro, sua desumanidade, sob o aspecto vendável de um charme exuberante que o Brasil e o mundo engolem de boca aberta até a próxima bala perdida.

Contos? Poemas em prosa? Crônicas? Difícil rotular narrativas tão surpreendentemente inovadoras. Há muito não se via algo tão novo, tão puro e ao mesmo tempo tão complexo. A capacidade que tem o escritor de viajar do coloquial para o caos urbano, do real aparente para a fantasia é realmente extraordinária. O texto de Adriano é de uma irritante originalidade, texto ao mesmo tempo estribado na tradição e nos grandes temas; órfico, por vezes.

Ao lê-lo, estamos em pleno reino da realidade da ficção, em que a verossimilhança interna é tão bem costurada que até nos choca quando o autor retorna de chofre ao mais comezinho real, como na história de abertura, em que os peixes e mariscos como fantasia se materializam como peixes e mariscos trazidos da feira, em uma magistral interconexão do real com o delírio. Com domínio absoluto desse interregno, Espínola trabalha para coser uma suprarrealidade, uma realidade várias vezes mais real porque deriva de uma leitura ora aguda, ora irônica, ora mágica desta brutal paisagem urbana do Rio de Janeiro.

Tudo isso é conseguido sem afetação, sem literatice. A narrativa segue seu fluxo natural e prosseguimos do aterrador ao espantoso, sem o estardalhaço da escritura, sem pirotecnia. Com um admirável manejo da frase como verso, com uma cadência e um ritmo que denunciam imediatamente que há um poeta, o indiscutível poeta Adriano Espínola, entretecendo uma teia de mentiras que nos iludem como verdades meridianas. Nesse sentido, o autor retoma a função primordial dos poetas antigos que era a de contar histórias, fabular, criar mitos com o poder da palavra.

E isso acontece, por exemplo, na peça “O xamã”, onde a dialética real versus irreal se enriquece de aprofundamento místico. Aqui os processos cíclicos do autor chegam ao ápice. A narrativa é primorosa e, talvez, aquela em que a antítese cidade x campo melhor se realiza. O emigrado, na sua iniciação xamânica, não consegue mais voltar, porém consegue assestar suas baterias metafóricas e desvendar mistérios, arrancar as máscaras de tudo e de todos ao adquirir, em transe, o espírito das coisas, pelo condão da transfiguração do ser.

Nos dezoito textos (ou "relatos" como indica o autor) reunidos em torno da idealizada Malindrânia (não por acaso o conto homônimo é o nono, localizando-se, portanto, no centro do livro), mito e realidade, linguagem metafórica e referencial, alegorias e símbolos se fundem e se embaralham na realização de algumas das melhores narrativas curtas da literatura brasileira contemporânea.


Ildásio Tavares, Jornal do Brasil
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sábado, 20 de fevereiro de 2010

"Costurando o Tempo: Maracatus", crônica de Ana Miranda para O POVO (19.02)

Foto: Diário do Nordeste


Sempre tive vontade de assistir às festas antigas do povo no Ceará. São a voz e a alma do lugar, relíquias que o tempo vai consagrando, de sabedoria, lutas, desespero, exílio, sonhos, segredos...


Foi com aquele mesmo sentimento de Fernando Pessoa ao ler pela primeira vez padre Vieira que, domingo de Carnaval, sentei-me com amigos na arquibancada para ver nossos maracatus.


Eu havia conversado com Descartes Gadelha, sua voz profunda de espírito me passara senhas poéticas das origens, das palavras, da música, do sentimento, como que pintando, esculpindo o maracatu. Catimbozeiro, loa, macumba ou reza, umbanda martirizada, rituais ao pé de macaúba, religião da caatinga, africano guerreiro, maracás, índio solto nos seus cálculos, a alma inconstante da pessoa na natureza... Contou do trabalho comovente e dedicado nos barracões, as mãos cortando, costurando, bordando, construindo, numa generosidade quase inexplicável, para a realização de um ritual que está no sangue. Costurando sonhos, lembranças, costurando o tempo...


O maracatu é mesmo uma força de sentimentos e heranças. A loa começa a soar de longe, plangente, bem marcada pelo ritmo e pela letra que nos convocam ao coração, trazendo ecos de lamentos escravos e a alegria religiosa de um dia em liberdade. Caixas marcando as batidas graves, surdos, bumbos, ganzás, chocalhos e ferros formam as baterias. As vozes dos macumbeiros, ou cantores de loa, são melodiosas e gentis. E lá vem o estandarte a apresentar o nome do maracatu, seguido de lampiões a guiar o caminho e o personagem Baliza a dançar acrobacias. Depois vêm os cordões, de africanos, índios, mucamas de açafates. Surge o balaieiro em veste ampla e cesto de frutas ou flores na cabeça, faz lembrar o escravo que vendia nas ruas a mando do senhor, o chamado negro de ganho. E vem o casal de pretos velhos com suas bengalas e cachimbos, seguido da corte, nobres africanos vestidos como príncipes, condes, marqueses, apresentando o rei e a rainha em roupas suntuosas, lamê, veludo, cetim, mil lantejoulas e brilhos. Alguns maracatus trazem um grande boneco, ou carros com personagens.


Ao final, vêm os cantores de loas e a bateria. Uma formação singela, perto de suas raízes, cheia de significados que carregam uma longa história. O cortejo, à exceção dos índios, vem com o rosto pintado de preto, máscara que relembra e homenageia sua origem. Também há maracatu com música mais alegre e rostos pintados de branco. Os maracatus, seja como forem, são lindos e emocionantes. Imaginando o que há por trás dessa festa, encontrei palavras aqui e ali, como um ensaio de Calé Alencar, músico e pesquisador que faz parte desses cortejos e os estuda. E eu, também, costurando o tempo... vi africanos capturados, presos nos libambos, arrastados ao porto e jogados nos porões dos navios negreiros, sem distinção de família, tribo, hierarquia religiosa ou cultural, ali estavam reis, príncipes, guerreiros, sacerdotes, oficiais, lavradores, mães, crianças...


Nus, feridos, esmolambados, traziam como riqueza apenas suas lembranças. Uns desembarcavam no Ceará, onde eram vendidos e iam ao trabalho escravo nas fazendas, nas casas, silenciados e impedidos de reviver suas religiões e costumes. Desde a escravização medieval em terras lusas, aproximados do Cristianismo, mas deixados às portas das igrejas, eles encontraram em Nossa Senhora do Rosário uma representação do oráculo Ifá, que fazia previsões: a santa usava um colar de rosas, rosário, parecido com o colar do porta-voz do orixá Orunmilá. Em Fortaleza foi erguida uma capela, em 1830, dedicada à santa dessa devoção, e os escravos formaram, como em outros lugares, uma irmandade reconhecida pela Assembleia Provincial do Ceará. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Capital levantava fundos para proteção dos escravos, pagava funerais, dava pensão a viúvas, e seu estatuto configurava a festa de coroação dos seus reis. Vendo o tom cristianizado da festa, senhores davam folga a seus escravos um único dia no ano, 7 de outubro, dia da santa. No interior da capela, entre altares dedicados a santos de feições negras, como santa Ifigênia princesa de Núbia, ou são Benedito, escravos celebravam as coroações dos reis do Congo. Dessa festa, desse dia de liberdade, em que as lembranças de cantos, de cerimônias, ritualizam a dignidade humana, derivam os nossos maracatus.


E lá estava o povo, a esperar e aplaudir. Ei tum tum tum tá, está contando as estrelas pra nos alegrar...

ANA MIRANDA é autora de Boca do Inferno, Desmundo, Dias & Dias, Yuxin, entre outros romances, editados pela Companhia das Letras

"Clube do Leitor" do Centro Cultural Banco do Nordeste


A partir da próxima terça-feira tem início do projeto Clube do Leitor CCBNB, na biblioteca "Inspiração Nordestina", do Centro Cultural Banco do Nordeste. O objetivo principal é promover o acesso gratuito à leitura e apresentar o acervo da instituição aos seus usuários, frequentadores e demais interessados.

O novo programa de difusão e apreciação literária visa, também, exercitar a leitura como instrumento de reflexão e prazer, além de promover o espaço da biblioteca do CCBNB como ponto de encontro cultural e de intercâmbio entre leitores. As atividades acontecerão sempre às 12h ou 17h, duas vezes por mês, para leitura e debate de temas sugeridos antecipadamente por um mediador. Cada encontro terá a duração de duas horas, utilizando o acervo da biblioteca e textos a serem distribuídos entre os participantes. Serão privilegiados autores brasileiros comprovadamente importantes na formação do leitor.

Mas nada de imaginar uma aula chata. A proposta do Clube é reunir leitores para fazer o que gostam: ler e comentar sobre o que leem, num clima descontraído.

A partir daí o aprendizado e os novos conhecimentos são adquiridos naturalmente, sem cobranças. "Neste imenso abrigo de palavras, vamos conviver com as mais diversas expressões e estilos literários que habitam a biblioteca do ‘Inspiração nordestina’: crônica (o primeiro encontro tratará da crônica), conto, novela, poesia, romance, literatura infantil, entre outros. Vamos trocar ideias e abrir muitas portas, porque o encontro nos ensina a construir pontes para outros universos culturais", ressalta a produtora e organizadora da iniciativa, Solange Vieira.

Mais informações
Clube do leitor CCBNB
Primeiro encontro no dia 23/02, na biblioteca do CCBNB (R. Floriano Peixoto, 941, Centro). Fone: 3464-3108

caderno3@diariodonordeste.com.br

Grande Aquisição de Obras Não-Didáticas de Autores Cearenses até 31 de Março


A Secretaria da Cultura do Ceará, por meio da Coordenadoria de Políticas do Livro e Acervos/COPLA, informa aos EDITORES interessados sobre a aquisição exclusiva de obras não-didáticas de autores cearenses que será iniciada em 17 de abril do corrente ano, com o objetivo de estimular a produção e valorização dos autores e editores radicados no Estado do Ceará, incrementar a produção editorial estadual, bem como reconhecer, fomentar e valorizar a produção literária cearense.

Ao considerar todos os preceitos legais e em conjunto com o Conselho Editorial de Autores Cearenses/CEAC, órgão de assessoria para análise e seleção de obras não-didáticas de autores cearenses, criado pelo Governador Cid Gomes, por meio do Decreto nº 29.979, cuja Presidência de Honra compete ao Ministro Ubiratan Aguiar, torna público os critérios oficialmente aprovados por meio de Resolução nº 2, de 25 de janeiro de 2010, que indica, dentre os critérios para aquisição de obras literárias não-didáticas:
a) Qualidade artística e estética da obra;
b) Reconhecida relevância cultural;
c) Reconhecida qualidade textual, considerando, mutatis mutandis, sua conformidade à Gramática Normativa da Língua Portuguesa;
d) Qualidade editorial
e) Obediência às especificações MÍNIMAS abaixo:
I - Formato de capa: 14 x 21cm (não aceitas edições de bolso)
II - Papel do miolo: off-set 70 ou 75 g/cm³;
III - Capa em papel cartão supremo, ou similar, a partir da gramatura de 250 g/cm³, em brochura;
IV - Acabamento: costurado, colado com as devidas dobraduras e vincos, laminação e plastificação;
V - Corpo de fonte mínima – 11;
VI - Registro International Standard Book Number - ISBN;
VII - Ficha catalográfica.

As Editoras que desejarem submeter obra(s) à apreciação devem encaminhar, pelo menos, 03 (três) exemplares do(s) título(s) a ser(em) analisado(s), juntamente com a proposta de venda do(s) mesmo(s), à Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Av. Gal. Afonso Albuquerque Lima, s/n – Térreo / Setor: COPLA – A/C: Julianne Larens), até o dia 31 de março do corrente ano.

O encaminhamento deve ser feito por meio de protocolo de abertura de processo/SPU, no setor de Protocolo desta SECULT.

A SECULT informa, entretanto, que o envio do(s) título (s) não garante sua aquisição e que os exemplares disponibilizados para a análise não serão devolvidos aos proponentes, podendo esta SECULT fazer uso dos mesmos como lhe aprouver.

As Editoras, após aprovação dos títulos e da proposta de venda apresentados ao Conselho, serão convocadas a apresentarem documentação necessária para iniciar o processo legal e oficial de aquisição.

IMPORTANTE: Os autores cearenses que tiverem interesse em ter a sua obra analisada deverão fazê-lo por meio de sua editora. Não serão aceitas propostas de pessoas físicas, salvo em casos analisados como "de ordem maior" pelo Conselho Editorial de Autores Cearenses"!
Maiores informações: (85) 3101.6789 (Julianne Larens) ou pelo e-mail: juliannelarens@secult.ce.gov.br

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Edital Prêmio Literário para Autor (a) Cearense


O Governador do Estado do Ceará, Cid Gomes, e o Secretário da Cultura, Auto Filho, por considerarem a atividade editorial e toda sua cadeia produtiva como integrante do processo de desenvolvimento cultural e, assim, essencial para o desenvolvimento do Estado, no uso de suas atribuições, tornam público, para conhecimento dos interessados, o Edital Prêmio Literário para Autor (a) Cearense, a maior premiação para a literatura na história do Estado do Ceará, que objetiva garantir a democratização do acesso aos recursos do Tesouro do Estado para, conforme a Lei nº 13.549, de 23 de dezembro de 2004, estimular a produção e valorização dos autores e editores radicados no Estado do Ceará, promover a circulação do livro, preservar o patrimônio literário, incrementar a produção editorial estadual e regulamentar as inscrições para apresentação de propostas e seleção de projetos em Literatura e Cultura em 14 (quatorze) categorias, abaixo discriminadas, sendo atribuído ao presente Edital o valor da ordem de 2.000.000,00 (dois milhões de reais).

O Edital tem como objetivo selecionar e premiar cearenses, dentre escritores, editores, quadrinhistas, pesquisadores, ilustradores, cordelistas, artistas e autores (as) de projetos gráficos em Literatura e Cultura em reconhecimento à originalidade, qualidade intelectual e técnica de seus trabalhos, distribuídos nas seguintes categorias, intituladas em homenagem a autores e intelectuais destacados na cultura cearense:


Prêmio Caetano Ximenes Aragão, de Poesia inédita (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);


Prêmio Jáder de Carvalho, de Romance inédito (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);


Prêmio Moreira Campos, de Conto inédito (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);


Prêmio Milton Dias, de Crônica/Memórias inédita (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);


Prêmio Rachel de Queiroz, de Literatura Infantil e Juvenil inédita (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);


Prêmio Alberto Porfírio, de Literatura de Cordel inédita (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);


Prêmio Otacílio de Azevedo, de Reedição (R$ 2.857,14 para o proponente/autor (a) + publicação);


Prêmio Eduardo Campos, de Dramaturgia inédita (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);


Prêmio Braga Montenegro, de Ensaio e/ou Crítica literária inéditos (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);


Prêmio Guilherme Studart de Ensaio sobre Tema Cultural inédito (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);


Prêmio Luiz Sá, de Álbum em Quadrinhos inédito (R$ 4.285,71 para o autor (a)/ + publicação);


Prêmio Manoel Coelho Raposo, de Publicação de Selo Editorial (execução de projetos de publicação, conforme apresentação de Plano de Trabalho, de coleção constituída de, no mínimo, três livros versando sobre temática CULTURAL específica a escolher);


Prêmio Edigar de Alencar, de Publicação de Revista Literária/Cultural (execução de projetos de publicação, conforme apresentação de Plano de Trabalho, de, no mínimo, três números/edições de revistas, inéditas ou em curso, com tiragem mínima de 1.000 exemplares cada um)


Prêmio J. Ribeiro, de Publicação de Álbum/Livro de Arte (publicação ou republicação de álbum, livro de arte e outras publicações em forma de livro, não contempladas nas categorias acima relacionadas, conforme apresentação de Plano de Trabalho)


Com exceção das categorias de Reedição e Publicação de Álbum/Livro de Arte, poderão concorrer apenas OBRAS INÉDITAS, sendo considerada OBRA INÉDITA, para fins deste Edital, aquela cujos textos que a compõem não foram publicados em conjunto, integralmente, em meio impresso e/ou eletrônico.


No momento da inscrição, as obras/projetos deverão ser apresentados, OBRIGATORIAMENTE, sob PSEUDÔNIMO, com exceção das categorias Reedição, Álbum em Quadrinhos, Ensaio e/ou Crítica Literária, Ensaio sobre Tema Cultural, Revista Literária/Cultural e Álbum/Livro de Arte.


Pessoas jurídicas só poderão concorrer às categorias Publicação de Selo Editorial (exclusivo para pessoa jurídica), Publicação de Revista Literária/Cultural e Publicação de Álbum/Livro de Arte, devendo, no ato da inscrição, indicar a pessoa física responsável por sua execução.


A Subcomissão de Habilitação Técnica selecionará a obra a ser premiada consoante os seguintes critérios:
a) Qualidade literária e estética da obra/projeto
b) Originalidade e criatividade da obra/projeto
c) Pertinência cultural da obra/projeto
d) Qualidade de Projeto Gráfico (incluindo detalhes de produção como ilustração, acabamento, design/arte-final, impressão e encadernação)
e) Currículo do Proponente
f) Atendimento às exigências do Edital
g) Exequibilidade e adequação orçamentária aos valores praticados em mercado, viabilidade de execução, dos prazos para realização, alcance e abrangência do projeto (efeito multiplicador e participação coletiva), interesse público e garantia da visibilidade do Prêmio e do apoio institucional da SECULT.


Além, da premiação e apoio a projetos envolvendo a cadeia criativa e produtiva do livro, a Secretaria da Cultura, em acordo com a UNIGRÁFICA e com o SINDILIVROS, está articulando a possibilidade de elaboração de orçamentos mais reduzidos na produção dos livros destinados ao edital, qualificação técnica das gráficas proponentes (em consórcio com editoras), menores descontos para as livrarias no preço final do livro e a abertura de espaço nas livrarias para lançamentos das obras selecionadas.

As inscrições serão realizadas no período de 18 de fevereiro a 31 de março de 2010. NÃO PERCAM TEMPO NEM A DATA FINAL!

O Edital completo com todas as especificações de apresentação de cada categoria e as normas gerais poderão ser encontrados e impressos por meio do sitio eletrônico da SECULT:




Maiores informações: Coordenadoria de Políticas do Livro e de Acervos/COPLA - (85) 3101.6794 ou pelo e-mail copla@secult.ce.gov.br

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Revista Vida e Educação nº 25




Vida e Educação: revista da Educação Básica, publicação bimestral da, cearense, Editora Brasil Tropical, sob a direção de Sandra Lima Röhl, também presidente da Câmara Cearense do Livro, chega agora ao seu número 25 com uma tiragem de 5.000 exemplares.

Em seu editorial, Sandra Lima assegura que a revista "se preocupa em discutir, dentro de sua área específica, temas que estão na nossa vida, de maneira tão direta, refletindo sobre questões polêmicas e, principalmente, atuando como guia, conselheira de pais, de professores e profissionais da educação, a fim de que exerçam da melhor forma seus papéis tão cruciais para a transformação desta realidade."

Com uma apresentação gráfica esmerada e um conteúdo, como de costume, criteriosamente escolhido, a Vida e Educação, dentre outras matérias, traz:

- Mídia e Infância (Prof. Claudemir Viana, Laboratório de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação da ECA/SP, fala sobre como os desenhos animados influenciam no desenvolvimento das crianças);

- Música (Elvis Matos, músico e professor da UFC, discute os rumos da música em aulas de artes, conforme a Lei nº 11.769 que torna o ensino da música obrigatório na educação básica);

- Neuroeducação (uma matéria da psicóloga Prof. Ms. Berenice Romanelli sobre a neuropsicologia e o distúrbios de aprendizagem, dentre eles a dislexia, a discalculia, disortografia, TDA/H e outros);

- Diversidade Sexual (Toni Reis, Presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros, reflete sobre as diversidade sexual na escola e as consequências do preconceito e as práticas excludentes comuns da sociedade);

- Observatório (artigo da deputada Rachel Marques, ex-presidente da Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Assembleia Legislativa do Ceará, enfocando o parlamento estadual, a qualidade e a universalização da educação)

- E mais: estatísticas, informes, experiências educacionais exitosas (Prêmio Peteca), publicações, entrevista (neste número, com o Prof. Cipriano Carlos Luckesi, da Universidade Federal da Bahia), Religião (artigo do Prof. Dr. Marcos Scussel, do Instituto de Educação Marista Nossa Senhora das Grças - RS) e, finalizando, na coluna Opinião, a Doutora em Educação, Maria José Barbosa, discorre sobre a problemática ainda enfrentada pela Educação de Jovens e Adultos - EJA, mesmo diante das garantias constitucionais.

Enfim, uma revista de cabeceira e competentemente desenvolvida para quem é gestor e /ou profissional da área educacional, mas também para todos nós que temos filhos e acreditamos que pensar educação neste país é a única forma de construirmos um futuro sustentável.

Serviço:

Revista Vida e Educação

Atendimento ao assinante: brasiltropicalfor@terra.com.br

Sugestões e/ou criticas: redacao@vidaeeducacao.com.br

Publicidade: +55 (85) 3214.6971 (Elpídio Júnior)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

"O 'Pão' Nosso! A verdadeira história da Padaria Espiritual", crônica de Raymundo Netto para O POVO


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Lembrar é tão difícil quanto esquecer. Peço permissão agora, num galope à beira-mar, para abrir a caixa preta do Café Java e, assim, revelar a todos como se deu, realmente, o estabelecimento da sociedade de rapazes de Letras e Artes, vulgarmente conhecida por “Padaria Espiritual”.

Estávamos eu, Pedro Salgueiro, Astolfo Lima, Carlos Vazconcelos, Poeta de Meia-Tigela, Carlos Nóbrega e Nilto Maciel no Assis da Gentilândia, sede de reuniões de promessas literárias, — e digo “promessas”, pois geralmente nunca se cumpre o que se propõe nelas, deixando todas as deliberações para a próxima ou para a que vier depois dela, e se vier —, quando soubemos que o deputado Antônio Sales, poeta e romancista, estava de volta à cidade. Tão mal comentávamos o fato, o vimos sair de uma bodega do Benfica com uma bisnaga de pão francês debaixo do braço. Vinha de conversa com o professor Sânzio de Azevedo, já se indo à Jacarecanga, onde residia há algum tempo.

Fui buscá-los, logo os convidando a ficar, mesmo que por um pouquinho. Antônio Sales, que estava todo em branco, passou o lenço na cadeira antes de sentar. Cumprimentou a todos, puxou um charuto, tragou uma branquinha e, diante do pedido de novidades, revelou-nos o desejo de abrir um grêmio literário genuinamente cabeça-chata. Ficamos impressionados. Sabíamos haver pelo menos uma centena de academias na cidade e que, todos os dias, entre trovas e panegíricos medonhos, criavam-se outras. O cearense, dizem, antes de tudo é um acadêmico. Precisava-se mesmo de mais uma?

— Compreendam, camaradas — argumentou. —, eu não quero apenas mais uma como tantas essas burguesas, formais, retóricas e burocráticas. A nossa tem de ser coisa nova, original, e até mesmo um tanto escandalosa para que sacuda o nosso meio e que tenha repercussão lá fora.
— Mas como o senhor está pensando, dr. Antônio? — questionou o Carlos, já curioso, a pensar como convidá-lo para participar do Bazar das Letras do SESC.

Percebendo a inquietação, Sales forrou, com guardanapos, a cadeira ao lado, e deitou seu pão, ainda quente, enquanto retirava do bolso do paletó umas folhas de papel consteladas por pingos e respingos de tinta. Era o rascunho dos estatutos de tal agremiação. Leu-nos alguns de seus artigos inéditos:
— “Depois da instalação da sociedade, só será admitido quem exibir uma peça literária ou qualquer trabalho artístico que for julgado decente pela maioria.”
— Pronto, já começou mal. — comentou o Pedro, torcendo a boca, franzindo a testa e olhando sabe lá Deus pra onde. — Se tiver que ser julgado pela maioria não vai entrar é ninguém. Não entra. O pessoal daqui, do jeito que é, não deixa!
— É uma pena... Fortaleza mimosa, ex-tapuya, é hoje uma rapariga civilizada. Está perdendo o encanto. É incrível, amigos, que a cidade, ao passo que se alarga materialmente, vai-se estreitando moralmente, de forma a assumir as mesquinhas proporções mesológicas de um lugarejo matuto com todo seu fervilhamento de intrigas, de picardias e bisbilhotices. — lamentou, a prosseguir: — “O distintivo da entidade será uma haste de trigo cruzada de uma pena, distintivo que será gravado na respectiva bandeira.”
Trigo? Cerveja! Todos levantaram os copos. Apoiado!

— “É proibido o uso de palavras estranhas à língua vernácula.” — “Aquele que durante uma sessão não disser uma pilhéria de espírito, pelo menos, fica obrigado a pagar, no sábado, café para todos os colegas. Quem disser uma pilhéria superiormente fina pode ser dispensado da multa na semana seguinte.”
— Estou fora. Que é isso? Não vou pagar nada para ninguém. Eu não sei fazer graça. — reclamou o Nilto, derrubando o gelo da cerveja na unha encravada do seu pé.
— E nós não vamos falar em literatura, não, gente? — entrepôs-se o Astolfo, já impaciente.
— “O associado que for pegado em flagrante delito de plágio, falado ou escrito, pagará café e charutos para todos os colegas.”
— O plágio é um atestado de humildade... — lembrei.
— “Será julgada indigna de publicidade qualquer peça literária em que se falar de animais ou plantas estranhos à fauna e à flora brasileiras, como: cotovia, olmeiro, rouxinol, carvalho etc.”
— Ei, o Rouxinol [do Rinaré] e o [Francisco] Carvalho vão ter que mudar de nomes? — comentou o Nóbrega, explodindo em risadas.
—“São considerados, desde já, inimigos naturais dos gremistas: os padres, os alfaiates e a polícia. Ninguém deve perder ocasião de patentear seu desagrado a essa gente.” Ah, essa parte é importante, gente: “Será punido com expulsão imediata e sem apelo o associado que recitar ao piano...”
— E o que citar trechos de latim no discurso também, não é? Ô coisa besta... — alguém lembrou um lançamento recente.
— “Vai detonar, implodir/ Antigas Instituições/ Vai deitar abaixo o Estado/ Costumes e tradições/ Vai trucidar, chacinar/Abonados, figurões.” — recitou o Poeta, apertando os dedos das mãos.
— Engraçado, né?... Mas a gente não vai falar em literatura, não? — lembrou novamente o Astolfo.
— “A sociedade representará ao Governo do Estado contra o atual horário da Biblioteca Pública e indicará um outro mais consoante às necessidades dos famintos de idéias.” Bem, ouvi dizer que esse problema já foi resolvido... “Publicar-se-á, no começo de cada ano, um almanaque ilustrado do Ceará contendo indicações úteis e inúteis, primores literários e anúncios de bacalhau.”
— Não vai dar certo. Ninguém ajuda nem lê. Já chega ao primeiro número com caquexia pecuniária. — profetizou o Nilto, limpando o bigode com o indicador.
— “As mulheres, como entes frágeis que são, merecerão todo o nosso apoio, excetuadas as fumistas, as freiras e as professoras ignorantes.”
— Uma mulher bonita de mau coração é como a mangaba que tem a polpa doce e o caroço amargo, não é assim, Sales? — tirou da memória invejável, o Sânzio.
— Pois é, Sânzio... Estou pensando em também publicar um periódico quinzenal, mas não sei ainda como vai se chamar... Vai depender, é claro, do nome que dermos à agremiação. — Nisso, Antônio Sales voltou-se ao seu pão e descobriu, surpreso, a cadeira em guardanapos vazios. Bradou: — O pão... que é do meu pão?
Estando todos nós com as bocas devidamente ocupadas, demos com os ombros, a abanar a cabeça...
— Pelos modos, querem me dizer que foi uma alma que levou o pão?
— Vai ver estão montando uma padaria espiritual. — respondeu, espirituoso, o Sânzio.
— É isso, professor... Padaria Espiritual! Padaria... O pão que alimenta o espírito do povo! O Pão! O Pão! Eureka!
Eufórico, Antônio Sales tomou rapidamente as folhas amassadas, colocou o chapéu à cabeça, despediu-se de todos, beijou forçosamente a testa do Sânzio, e arribou-se, como as aves, para fazer história.
— Esse negócio de beijar a gente é de lascar! — afirmou Sânzio com ares de “não gostei” e limpando a testa com o lenço. — Já pensou, rapaz, que coisa de Mandrake? Logo o Antônio Sales... Peraí...
— E o pior, professor, é que saiu e não pagou a conta. Que custa contribuir, né? Mais um! — desconsolava-se o Pedro enquanto o Nilto afirmava:
— Eu não vou pagar. Não convidei ninguém. Só bebi uma cerveja.
— Rapaz, eu só sei que vou mudar de bodega... ô, pãozinho bom... — afirmou, jocoso, o Nóbrega.
— E aí, minha gente, — reclamou o Astolfo puxando mais um cigarro — quando a gente vai começar a falar sobre literatura?

Ficou para a próxima... como sempre!

Antônio Sales (1868 – 1940), cearense, nascido em Parazinho (hoje, Paracuru), publicou “Versos Diversos”, “Minha Terra” e “Aves de Arribação”, dentre outros. Em 1892 criou o programa de instalação da “Padaria Espiritual” (alguns de seus trechos citados no texto), movimento que durou até 1898 e da qual fizeram parte diversos autores cearenses. Ajudou na fundação da Academia Brasileira de Letras, não aceitando, porém, o convite para fazer-lhe parte. Alguns dos trechos de sua fala forma colhidos de seus escritos.

Raymundo Netto é autor do romance “Um Conto no Passado: cadeiras na calçada". Escreveu esta crônica de aniversário para o Prof. Sânzio de Azevedo (11 de fevereiro). Contato: raymundo.netto@uol.com.br / blogue: http://raymundo-netto.blogspot.com



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Homenagem de aniversário de 250 anos de Bárbara de Alencar

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Em homenagem aos duzentos e cinquenta anos de Bárbara de Alencar,
nascida a 11 de fevereiro de 1860; e aos trinta anos do
Romanceiro de Bárbara,
de Caetano Ximenes Aragão (1927-1995).

Pelo Poeta de Meia-Tigela

Há trinta anos Caetano Ximenes Aragão publicava o seu Romanceiro de Bárbara, livro cujo título nos remete imediata e não casualmente ao Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. O autor parece querer estabelecer desde o princípio um paralelo entre os episódios da Conjuração Mineira tão magistralmente recriada em versos pela poetisa carioca, e a Confederação do Equador que, no concernente à participação do Ceará, teve na família Alencar alguns dos significativos protagonistas.

Movidos pelo descontentamento frente às medidas do então recente governo imperial de Dom Pedro I, camadas representativas de Pernambuco, da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará unem-se em oposição ao poder monárquico centralizador. Em nosso estado, depois de aguerridos combates, Tristão Araripe chega a empossar-se como Presidente da Província em 1824, no entanto pouco demorando como tal. A pronta e violenta reação das tropas legalistas leva-o à morte em combate, bem como instaura furiosa perseguição aos revoltosos, culminando com o fuzilamento, em 1825, dos mártires Azevedo Bolão, Ibiapina, Carapinima, Padre Mororó e Pessoa Anta — no antigo Campo da Pólvora, atual Passeio Público.

Se Bárbara de Alencar não esteve envolvida diretamente na intentona de 1824, foi figura emblemática em 1817. Não apenas “acobertara” as conspirações de seus filhos Tristão e José Martiniano (este, pai do autor de Iracema), mas alimentara o ideal revolucionário com sua força de — mais do que matrona — matriarca esclarecida do Crato. É o que atesta a carta-testamento do padre, médico e naturalista Manuel de Arruda Câmara: “A D. Bárbara de Crato, devem olhá-la como heroína”. Heroica seria realmente sua postura quando do fracasso, em apenas uma semana, dessa primeira experiência republicana cearense: assim como seus filhos, é presa e conduzida ao antigo Quartel de 1ª. Linha da capital, e encarcerada sem direito a regalia de qualquer espécie. Pelo contrário, viveria dias de extrema penúria até sua transferência por mar para a Fortaleza das Cinco Pontas em Recife e, dali para Salvador, onde finalmente fora libertada, após uma devassa que com seus respectivos sofrimentos e represálias, durara cerca de três anos. O retorno para casa não resultou, porém, exatamente numa alegria: com os bens tomados pelo Império, e o nome enxovalhado (os adversários políticos naturalmente aproveitando-se da ocasião para a disseminação de toda sorte de maledicência), tornaram-se uma espécie de “exílio domiciliar” seus últimos anos. Não se tem notícias do pertencimento de Bárbara de Alencar às insubordinações que se seguiram à sua soltura. Morre em 1832, a vinte e oito de agosto, aos setenta e dois anos.

Eis os fatos que servem de motivo à lírica de Caetano Ximenes Aragão e ao Romanceiro: escrito num período marcado pela agonia do regime militar e início da Abertura, o livro faz do canto a Bárbara um canto à liberdade. O que é simbolizado exemplarmente pela contínua aparição no poema da Ave da Madrugada que “canta de noite e de dia/ é sua maldição cantar/ cantares de rebeldia/ e aquele que ouvir seu canto/ nunca mais se concilia/ será sempre um encantado/ da ave da madrugada”. E que é revelado ainda pelo poeta no Posfácio à obra: “Este poema é uma metáfora sobre a liberdade. Nasceu em tempos de incertezas. Havia medo, exílio, prisões, torturas, homens e mulheres banidos. Bárbara Pereira de Alencar, primeira presa política do Brasil, na ordem do tempo, sofreu prisão, violência, maus tratos, exílio e teve seus bens confiscados. Mas resistiu e por isso e outras razões, é uma heroína marginalizada na História de nosso País”.

“Uma heroína marginalizada na História de nosso País”, diz-nos o poeta. Não deixa de ser verdade, se pensamos no espaço concedido a diversos vultos tornados referências nacionais. Não deixa de ser verdade, se pensamos no espaço concedido a outros vultos tornados referências em nosso próprio estado. Não deixa de ser verdade se confrontamos o que representam as imagens de Bárbara de Alencar e seu filho Tristão Araripe, quando comparadas à imagem que atualmente exportamos como sendo a tradutora de nossa cearensidade: a de um Ceará não só Moleque, mas cuja molecagem vem identificando-se, gradualmente, com o baixo humorismo. Enaltecemos com orgulho a figura de um povo irreverente a ponto de vaiar o próprio sol. Mas diminuímos o valor dessa mesma irreverência quando a igualamos ao riso fácil resultante da piada mal-contada, reprodutora de preconceitos e estereótipos, incapazes de sugerir quaisquer maiores enfrentamentos do status quo. Forjamos cada vez mais a face de um povo que sabe rir (de si); porém, não será esse contentamento algo um tanto forçado, esgar ao invés de sorriso? Quando Caetano Ximenes elege Bárbara de Alencar motivo de sua poética, contribui para o resgate de outra fundamental expressão de nossa formação como povo: a expressão da luta, do confronto, do heroico e do trágico, igualmente cearenses.

Tomemos como simbólico o não nos ter chegado um registro, desenho, nenhum esboço sequer, dos rostos de Bárbara ou Tristão: e empreendamos o avivamento de suas feições, o avivamento de nossas feições, estimulando a presença de seu exemplo entre nós. Se Zenon Barreto soube representar a ausência de tal registro na estátua erigida em homenagem à “Guerreira do Brasil” (para lembrar a obra de Roberto Gaspar), soube também postá-la retilínea e altiva, conforme a vemos na Praça Bárbara de Alencar, na Avenida Heráclito Graça. Felizmente há sempre quem insista na representação de um Siriará combativo, e que sabe fazer da festividade, inclusive, um momento de exaltação dessa “outra face” de que falamos: é o caso de inúmeros anônimos. É o caso também de Maria do Amparo, que mantém um pequeno museu na Casa do Sítio Caiçara em que Bárbara de Alencar nasceu, no município de Exu, sem apoio governamental ou particular algum. É o caso de Oswald Barroso à frente do anual Cortejo dos Confederados; e agora do Maracatu Nação Fortaleza e seu tema “Bárbara Luz da Liberdade”.

Vejam que não é absolutamente necessário que tomemos a vida negativamente, por a assumirmos heroica e tragicamente: é condição maior do trágico, não a dor, mas a insubmissão ante um destino demarcado. Sorriamos, pois: não com escárnio, mas com a felicidade dos que se sabem encantados pela “ave da madrugada/ que canta de noite e de dia/ (...) cantares de rebeldia”.

“Bárbara era feita
de pedaços de brisa
certezas
e terra ensanguentada”
(Caetano Ximenes Aragão)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

"Lavanderia na Varanda", crônica (protesto) de Ana Miranda para O POVO


Tenho sido favorável às decisões do Governo do Ceará. O Centro de Convenções me sugere um excelente investimento para a cidade, além de estar bem localizado, e de ser um projeto de arquitetura e paisagismo belíssimo. Até mesmo o polemizado aquário na Praia de Iracema, onde nasci, conta com a minha simpatia. Como nosso maior urbanista, Lucio Costa, compreendo o ponto de vista dos que entendem que a cidade prescinde de símbolos, e seja despojada de qualquer vislumbre de grandeza, em favor de uma plenitude administrativa. Mas, como ele, acredito que, "imanente ou transcendente, há uma intrínseca grandeza no homem e na sua obra, ainda quando aparente a sua negação". A ideia do aquário é perfeita para uma cidade como Fortaleza, que tem no mar uma de suas marcas mais fortes e bonitas. O mar é o monumento nato de Fortaleza. A orla é a maior riqueza do Ceará, pertence ao seu povo, e deve ser cuidada com minúcia e rigor, dentro de concepções inovadoras, ecológicas e sustentáveis.

Claro, os governos precisam cumprir as metas sociais e cuidar de Fortaleza, tanto com a presença universal da administração, como em campanhas educativas para se criar espírito público e desvelo pela cidade, por parte de seus moradores. Mas é correto não esquecer a valorização de Fortaleza frente aos seus habitantes e a sua situação no mapa urbano mundial. O desafio da transformação tem preço, ela é arriscada, precisa ser feita com a maior sensibilidade, mas a sua alternativa é a desesperança, o isolamento e a estagnação. Vemos a experiência de Bilbao, pequena cidade espanhola que tomou expressão internacional a partir da construção de um museu em arquitetura ousada. Vemos o caso de Niterói, com a edificação de um pequenino museu sobre pedra, na orla, de extraordinária presença na cidade, que se tornou mais atraente e valiosa. E, bem pertinho, vemos a proposta amena e benéfica do Parque do Cocó. É até mesmo uma questão de autoestima, tema dos mais candentes por aqui.

Também concordo com a criação de um estaleiro, fonte de riquezas, de trabalho, e outros bens econômicos. Mas a localização do estaleiro em plena orla urbana, num dos pontos mais belos, é incompreensível. Parece-me a mesma atitude de alguém que possui um fabuloso apartamento, com vista para o mar, e resolve instalar a área de serviços na varanda. Basta um passeio pela orla de Santos, ou de Vitória, para constatarmos a destruição de uma possibilidade racional, humana, o desprezo pelo que vale e significa a paisagem na alma de uma cidade. Não apenas a paisagem, mas o preço da degradação urbana que se forma em torno dessas indústrias. Coisas do passado. Nenhuma administração pode se permitir mais esses equívocos. Basta passear pela orla do Rio, pela Barra, pela Lagoa, para ver o oposto, calçadas, jardins, playgrounds, bosques, quiosques, ciclovias... Barcelona, Londres, Paris, Sidney, Manaus, Belém, Boa Vista...

O estaleiro na orla urbana renega o próprio aquário construído para a ocupação de área nobre, em favor da cidade e da população, do mesmo modo como foi feito o belíssimo Dragão do Mar, que, sozinho, numa ilha entre abandonos, perde sua simbologia e força. O grande símbolo dessa ocupação das áreas nobres pelo interesse elevado, pela população, é uma guinada contra a utilização desses espaços como zona de deleite subalterno ou de violência consentida. A cidade, como diz Lucio Costa, é um ato deliberado de posse, de um gesto desbravador. O que se poderia esperar era o contrário, a retirada do porto de Mucuripe para local mais adequado, com todos os seus guindastes, contêineres, caminhões, óleo e fumaça, e que a orla prosseguisse em sua função.
Ali a aptidão é, juntamente com o Titanzinho, ser uma área de beleza e valores naturais, como é o aterro do Flamengo no Rio, artisticamente arborizada, com quadras para atividades esportivas, de brincadeiras infantis, celeiro de tartarugas e golfinhos, praia para pescaria e surfe, calçadas para passeios, lazer e reconforto para os moradores de Serviluz, escolas esportivas, o que está ditado pela sua ocupação espontânea.

Todo esse esforço, pago pela população e empreendido pelo poder público, deve tornar Fortaleza uma cidade moderna e corajosa, não mais uma capital de província, nem uma serva do interesse econômico, mas a tradução da ideia de prestígio e dignidade, associada à noção de coisa pública, acompanhando as preocupações do nosso tempo e as necessidades e sonhos de nosso povo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Curso "Conhecendo Rachel de Queiroz" - fevereiro a março de 2010

CURSO DE EXTENSÃO
“CONHECENDO RACHEL DE QUEIROZ”
2010 – O ANO DE RACHEL DE QUEIROZ
LEI ESTADUAL N° 14.466, DE 15.09.09 (D.O. de 09.10.09)
VENHA CONHECER MELHOR A ESCRITORA CEARENSE RACHEL DE QUEIROZ E DEBATER SUAS OBRAS COM VÁRIOS PESQUISADORES, EM COMEMORAÇÃO AO CENTENÁRIO DE SEU NASCIMENTO.

LOCAL: AUDITÓRIO DO CENTRO DE HUMANIDADES DA UECE
Av. Luciano Carneiro, 345, Bairro de Fátima Informações: (85) 3101.2026
PERÍODO: de 03 de fevereiro a 31 de março de 2010
(todas as quartas-feiras, de 17h às 19h)
INSCRIÇÕES: De 25 de janeiro a 03 de fevereiro na Secretaria do Centro de Humanidades
Investimento: R$: 10,00 (Com direito a fotocópias e a certificado de 30h/a)
E-mail para contato: cleudene@gmail.com
PROGRAMAÇÃO:

03/02 (quarta, de 17h a 19h30) – Profª. Cleudene Aragão (Letras UECE) – Os fabuladores artífices Rachel de Queiroz e Xosé Neira Vilas: vidasfeitas de terra, mar e palavra.
10/02 (quarta, de 17h a 19h30) – Profª. Cecília Cunha – Rachelzinha: uma escritora em formação.
19/02 (sexta, de 17h a 19h30) – Profª. Vania Vasconcelos (FECLESC) –As três Marias de Rachel de Queiroz e As meninas de Lygia FagundesTelles
24/02 (quarta, de 17h a 20h) – Profª. Edna Carlos (UECE) - Cacau e Caminho de Pedras: literatura e ideologismo político.
03/03(quarta, de 17h a 19h30) – Profª. Arminda Serpa (UECE) - Dôra, Doralina: um nome, a dor, o outro, a flor.
10/03(quarta, de 17h a 19h30) – Profª. Maria Valdenia da Silva(FECLESC) - (In)Formação na crônica de Rachel de Queiroz.
17/03(quarta, de 17h a 19h30) – Prof. Batista de Lima (UECE) - As dicotomias em O menino mágico, de Rachel de Queiroz.
24/03(quarta, de 17h a 19h30) – Prof. Rodrigo Marques (FECLESC) – A participação de Rachel de Queiroz no primeiro modernista no Ceará.
31/03(quarta, de 17h a 20h) – Profª. Lourdinha Leite Barbosa (LetrasUECE) - As personagens femininas de Rachel de Queiroz e Encerramento.