Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Rouxinol do Rinaré: Nasci a 28 de Setembro (mês de Tex) de 1966, em Rinaré (pequeno lugarejo, com um açude enorme e imensos rochedos que lembram alguns cenários das aventuras de Tex), no sertão central do Ceará (Estado do Nordeste do Brasil). Nas minhas 4 décadas de existência já fiz um pouco de tudo: trabalhei no campo (sou filho de agricultor), na indústria têxtil, vendi livros, fui fotógrafo amador, trabalhei no comércio de frutas (CEASA) e actualmente vivo da minha literatura. Sou poeta cordelista com mais de 70 títulos publicados (entre folhetos e livros) por várias editoras do Brasil, trabalhos que assino com o nome artístico Rouxinol do Rinaré. Minha renda vem dos direitos autorais e das Oficinas de Literatura de Cordel que ministro.
Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Rouxinol do Rinaré: Meu interesse pela Banda Desenhada nasceu em 1978, quando saí do campo e vim morar na capital do Estado (Fortaleza), com o meu irmão mais velho, recém-casado. Aliás, o meu irmão, Severino Batista, influenciou-me muito na minha formação como leitor. Primeiro com as leituras dos “romances” de cordel e depois com as BD’s.
Quando descobriu Tex?
Rouxinol do Rinaré: Eu já lia outras histórias em quadradinhos, mas Tex conheci em 1984, por meio desse meu irmão que lia um pouco de tudo. Daí foi paixão à primeira vista! Então, como eu não tinha condições de comprar, comecei a trocar por Tex todas as revistas que já possuía… Era um martírio ler o famoso “continua no próximo número”, pois muitas vezes dependia dos outros para saber o final da história.
Por que esta paixão por Tex?
Rouxinol do Rinaré: Dentre outras coisas porque me identifico com a personagem italiana em tudo… Tex (ou Bonelli?) vê o mundo como eu vejo, principalmente no que diz respeito aos valores: não julgo ninguém pela sua condição social nem pela cor de sua pele e fico indignado com os “esquenta-poltronas” (os políticos burocratas e corruptos). Além disso, como não tenho formação acadêmica, costumo dizer que a Literatura de Cordel e a revista Tex foram as minhas faculdades. Levando em conta a pesquisa histórica de Bonelli (quem lê Tex sabe) ninguém se assuste se eu afirmar que toda uma bagagem de “conhecimento geral” adquiri com uma revista Tex em mãos: a disputa por domínio de fronteiras entre o México e os Estados Unidos, as influências e questões da França com o Canadá, a Guerra de Secessão, as histórias das colonizações e o massacre dos povos indígenas, particularidades das culturas árabes, chinesa, grega etc., etc….
O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Rouxinol do Rinaré: Tex é um herói mais real, “de carne e osso”, digo, sem super-poderes. Suas indignações, seu senso de justiça, sua coragem e capacidade de solucionar tramas complicadas fascinam-me!
Sendo você um tão conceituado poeta da literatura cordelista, alguma vez escreveu algum cordel inspirado em Tex?
Rouxinol do Rinaré: Sim. Meu cordel “O JUSTICEIRO DO NORTE” tem influência de Tex, principalmente no que diz respeito à ambientação, ou seja, a minha personagem é fictícia, mas o cenário da história é real. Começa no Nordeste e termina na Amazónia (no Norte), com episódios em períodos históricos (bem conhecidos pelos brasileiros) que vão desde as grandes secas, o tempo do cangaço, ao famoso “ciclo da borracha”. A origem da personagem também lembra Tex (o herói que vinga a morte do pai e começa a fugir e fazer justiça mundo afora), mas a inspiração, na verdade, foram alguns cangaceiros famosos, como Antonio Silvino (que inclusive aparece no enredo), que viveram antes de Lampião.
Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Rouxinol do Rinaré: Minha colecção é modesta, devido à minha condição financeira. Tenho cerca de 600 revistas: as da extinta editora Vecchi, algumas da Rio Gráfica, da Globo (poucas, incluindo as coloridas e o 1º almanaque) e estou tentando comprar todas as especiais da Mythos, sempre que há lançamentos. Todas são importantes, mas orgulho-me de possuir o livro capa dura “O ÍDOLO DE CRISTAL” (inclusive tenho-o repetido para permutar), a edição nº 1 da Vecchi (O Signo da Serpente) e 2 BESTSELLERS da Itália que ganhei de presente do meu amigo italiano Alex Grecchi.
Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Rouxinol do Rinaré: Quero coleccionar tudo, mas não tenho conseguido muita coisa, além das revistas e livros. Tenho umas blusas personalizadas que mandei pintar e uma estatueta que paguei para um escultor fazer. De material oficial tenho o Chaveiro (que acompanhou a Tex Anual nº 6 do Brasil), alguns pósteres e o bóton (pin) português dos 60 anos de Tex no Festival da Amadora.
Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Rouxinol do Rinaré: Resposta difícil esta… Vou destacar 3 histórias: “Navajos em Pé de Guerra”, “A Fabulosa Cidade de Ouro” e “O Grande Rei”. Dos desenhadores gosto de vários, mas destaco Galep, Erio Nicolò, Letteri e Claudio Villa. Já o argumentista maior foi mesmo o velho Bonelli, sem desprezar os demais!
O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Rouxinol do Rinaré: Acho que já falei o que me agrada mais na personagem: seu senso de justiça, sua coragem e inteligência. O que me agrada menos é o facto de ele quase não ter tempo para o amor. Coloco-me no lugar dele e, como gosto das mulheres, acho uma falha nesse aspecto do enredo (…risos…).
Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Rouxinol do Rinaré: Creio que é um conjunto de detalhes e valores com os quais pessoas diferentes se identificam… Somam-se tudo que já citei antes, ao facto de Bonelli não se deter ao faroeste clássico, ou seja, além do convencional enredo western muitas histórias do Tex acontecem em lugares diferentes e se reportam a épocas diferentes, com as situações das mais diversas: civilizações e mundos perdidos, seitas de fanáticos, magia e terror, espionagem, aventuras em alto mar, enredo com uma pitada de ciência (especialmente quando aparece o Bruxo Mouro) e até extra-terrestres.
Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Rouxinol do Rinaré: Actualmente sim, mas passei um período meio sem ter oportunidade de contactos. O acesso à Internet facilitou bastante, tanto para contactos com pessoas do universo do Tex, quanto do Cordel.
Como vê o futuro do Ranger?
Rouxinol do Rinaré: Nosso herói ainda vai encantar muitas e muitas gerações de leitores… VIDA LONGA PARA TEX!
Para concluir, poderia nos brindar com um poema dedicado a Tex?
Rouxinol do Rinaré: Claro que sim, e com prazer. Segue:
UMA LENDA DO OESTE
No oeste há uma lenda
Que ultrapassa fronteira
Um mito que se confunde
Com história verdadeira
Um herói que sua saga
Vai de fogueira em fogueira…
O sol com o olhar de fogo
Impiedoso, escaldante,
Aquece as rochas do Canyon
Por onde desafiante
Vai passando um cavaleiro
De porte impressionante!
A cavalgar um corcel
Belo, possante e ligeiro,
Impõe respeito e poder
O porte do cavaleiro
Com dois revólveres nos coldres
Parecendo um pistoleiro.
Era um herói solitário
Quando a saga começou
E como fora-da-lei
No oeste cavalgou
Mas fora um mal entendido
Que mais tarde superou…
Humilhações, injustiças,
Nosso herói não admite.
Em defesa do mais fraco
Supera qualquer limite:
Transpõe desertos e vales
No cavalo Dinamite.
Cavalgando por desertos,
Da morte vendo a miragem,
Por vales e pradarias
Com destemor e coragem,
Nosso herói tem vida intensa
No velho oeste selvagem!
Seu travesseiro é a sela,
Entre as feras faz pernoite.
Amigo do homem honrado,
Mas pro patife é açoite.
Respeitado entre os navajos
Como o chefe “Águia da Noite”.
Quem é esse cavaleiro
Que o perigo ousa enfrentar?
Não me pergunte, ouça o vento
O seu nome sussurrar:
Willer… Tex Willer,
Um justiceiro sem par!
Prezado pard Rouxinol do Rinaré, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.
Rouxinol do Rinaré: Eu é que agradeço, pelo privilégio de participar deste tão conceituado BLOGUE
Abaixo o endereço original do Tex Willer Blog:
http://www.texwillerblog.com/wordpress/
http://www.texwillerblog.com/wordpress/