Poucas são as informações que permitem um
estudo detalhado sobre a vida dos primeiros agrupamentos humanos. Por isso, a arte
rupestre se tornou uma das
principais fontes históricas para compreender a nossa Pré-História.
Por meio dela, podemos imaginar as formas de comunicação entre os primeiros
humanos, os rituais religiosos, além de nos apresentar traços, figuras
geométricas e linhas, bem como as suas impressões de pés e mãos, entre outras descobertas
referentes à sua cultura.
O pesquisador, crítico e artista
plástico Nilo Firmeza, o “Estrigas”, diante da necessidade de conhecer os
trabalhos de arte deixados pelos nossos antepassados em épocas pré-históricas e
ciente dos pouquíssimos estudos sobre o tema, publicou Arte: aspectos
Pré-Históricos no Ceará (Edições Tukano, 2ª ed, 1989), no qual narra sua
pesquisa e exploração in loco em Itapipoca, mais precisamente na “Pedra
Ferrada”, no Mocambo de Cima. Na obra, no capítulo “Nossas Manifestações
Artísticas”, dedicado ao político Perilo Teixeira, adverte que em seu estudo,
ao contrário do que se fazia até então, pretendia colher nele “a parte de
interesse artístico e apresentá-la em função mais da arte que da história”. Mais
à frente, assevera: “Em sua melhor manifestação, da mais genuína representação
característica da arte primitiva em seu período inicial já valorizado, vamos
encontrar em Itapipoca, na serra de Uruburetama, o que, no momento, se
constitui, de conhecido, o patrimônio maior deixado pelos nossos pintores da
Pré-História.”
Dissemos que Estrigas dedicou
esse capítulo ao deputado Perilo Teixeira, e não foi à toa. Quando Perilo soube
da pesquisa de Estrigas em “sua cidade”, imediatamente disponibilizou transporte,
hospedagem, um guia e um fotógrafo para a viagem de Estrigas e de Nice Firmeza,
artista plástica e sua esposa, para Itapipoca, a fim de explorar a famosa gruta
da “Pedra Ferrada”. A expedição saiu de Fortaleza em 3 de janeiro de 1975, ou
seja, estamos às vésperas de completar o seu Cinquentenário.
Na obra, Estrigas narra a
dificuldade de se chegar ao local, o caminho íngreme, a escalada, a longa
distância e as características da almejada gruta, que tinha “uma curvatura que
formava uma abóbada de uma extremidade à outra”. Continua: “No interior dessas
crateras [cita que a parede interior da abóbada era repleta de crateras
circulares ou elípticas] existem pinturas. Distribuídas pelo espaço da parede,
encontramos duas figuras de pássaros [...], um quadrúpede [...] e muitas
figuras humanas [...], além de outras figuras não muito distintas e parecidas
com sinais.”
Estrigas retornaria a Fortaleza
e regressaria a Itapipoca ainda no mesmo mês, no dia 25, com o objetivo de
registrar esses desenhos. Desta vez, levaria o jovem Bené Fonteles e convidaria
o também o pintor Mário Baratta, que chegaria, no dia seguinte, acompanhado do
amigo Vicente Gondim.
Enquanto Estrigas observava
acuradamente cada imagem e realizava suas medições, Nice copiava as figuras e
os sinais por sobre um plástico transparente – esses desenhos se encontram na
obra – e Bené Fonteles e Mário Baratta fotografavam.
(Continua)