A capa do jornal O POVO, em 12 de janeiro de 1961, alarmava:
“ITAPIPOCA, SEDE DE IMPORTANTES PESQUISAS CIENTÍFICAS”.
Naqueles dias, chegava à “Terra dos
Três Climas” uma expedição de paleontólogos renomados. Entre eles: Carlos de
Paula Couto e Fausto Luís de Sousa Cunha, ambos diretores do Museu Nacional,
autores de publicações que tiveram alcance e impacto internacionais. Também na
equipe, Francisco de Alencar, do Instituto de Antropologia da Universidade do
Ceará, e o itapipoquense José Paurilo Barroso, na verdade, o principal causador
desse movimento, sendo ele, em 1953, o autor da carta enviada, por intermédio
de Gustavo Barroso, ao Museu Nacional, na época, a instituição mais qualificada
e equipada para investigações na área, relatando a existência abundante de ossadas
fósseis na região do sopé da serra de Uruburetama.
O paleontólogo Carlos Couto surpreendia
ao responder para o jornal “ser provável, pelos indícios já encontrados,
desenterrar das cacimbas ou depósitos em escavação, esqueletos inteiros de mastodontes”.
As cacimbas a que se referia eram “bebedouros” naturais gerados por depressões
em formações rochosas que acumulavam água das chuvas. Ali, animais de grande
porte, como mastodontes, tigres dente-de-sabre, preguiças gigantes (o maior
mamífero terrestre que já viveu no Brasil), entre outros, há 10 mil anos, se inclinavam
para matar a sede, às vezes caindo nelas sem conseguir escapar, ou, quando em
período de estiagem, morrendo ao seu redor, sendo posteriormente empurrados
para dentro delas por enxurradas e sendo soterrados. Esses sítios
paleontológicos são de imenso valor para os estudos da “fabulosa fauna
pré-histórica assinalada em Itapipoca”. E não se limitam apenas aos mamíferos,
mas a aves, répteis e espécies vegetais.
O paleontólogo Celso Ximenes, curador
do Museu de Pré-História de Itapipoca (o Muphi), fundado em 2005, afirma:
“Nenhum lugar do Brasil tem tantas espécies de animais pré-históricos como em
Itapipoca.” E por isso defende que Itapipoca seja reconhecida como a Capital
Cearense da Megafauna Pré-Histórica, ciente de que Santana do Cariri é considerada
a Capital Cearense da Paleontologia, devido à quantidade e qualidade de seus
fósseis. Porém, é em Itapipoca, e não em Santana, que podemos encontrar esse
grande volume de animais de grande porte que, em conjunto (são sete os sítios paleontológicos),
denominamos de MEGAFAUNA.
O Muphi atualmente assume em Itapipoca o
papel de preservação do seu patrimônio paleontológico e arqueológico,
conduzindo pesquisas e cursos de formação (Antropologia e Paleontologia) em
parceria com diversas instituições, além de realizar trabalhos de divulgação
científica, educação patrimonial e promover o turismo cultural.
No seu acervo, além de réplicas
constituídas de alguns desses animais gigantes, a partir de ossadas originais,
traz diversas peças, como fêmur, costelas, vértebra, mandíbula, dentes, utensílios
de pedra polida e de pedra lascada e malacológicos (instrumentos feitos de
conchas), sendo alguns deles tombados pelo Iphan. Aliás, entre as ações do atual
prefeito Felipe Pinheiro, está sendo reformada a sede da antiga
maternidade Matargão Gesteira para acolher a nova sede do Museu Pré-Histórico,
então, ampliado, com planos para atrair cientistas, estudantes, pesquisadores e
turistas de todo o mundo, em busca de estudar e conhecer esse patrimônio
paleontológico riquíssimo em um espaço mais adequado e estruturado em
conformidade com o seu potencial científico, educacional e turístico.
(continua)