terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Registro: Festival UFC de Cultura Homenageia a Escritora Cearense Ana Miranda - IV Festival UFC de Cultura: Camiños de Nuestra América


Regina Ribeiro, Ana Miranda, Pedro salgueiro e Raymundo Netto
(foto: Júnior Panela)
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A homenagem à escritora Ana Miranda foi realizada segunda-feira (17) no primeiro dia do Festival UFC de Cultura, no auditório da Reitoria da Universidade Federal do Ceará. O evento fez parte do Seminário América Latina: Bibliotecas, com o tema “A América Latina que escreve e que se escreve”.
A romancista, ilustradora e poetisa foi entrevistada pelos escritores Raymundo Netto e Pedro Salgueiro e pela jornalista Regina Ribeiro. Ana Miranda respondeu perguntas sobre sua relação com a literatura latino-americana, leu trechos de escritores da região e falou também sobre o processo de produção de seus livros. Ana afirmou que precisa de silêncio e solidão para escrever seus romances. Segundo ela, “Todo texto fácil de escrever, no dia seguinte, vai para o lixo”.
A escritora teve sua obra traduzida e publicada em cerca de vinte países, inclusive na América Latina. Ela revelou se incomodar com “cada palavra que é mudada” na tradução de seus livros. Segundo Ana, o significado das palavras se perde durante a tradução. “Nós só realmente podemos compreender o significado de uma obra de arte quando lemos essa obra de arte na nossa língua e quando ela é original da nossa língua”.
Os principais romances da escritora receberam atenção especial dos debatedores durante a conversa. Ana Miranda falou sobre a adaptação para cinema da ficção histórica Desmundo, de 1996, e a inspiração para seu romance mais recente, Yuxin, de 2009, que conta a história de uma jovem índia do interior do Acre. Outras obras de Ana, como Boca do Inferno, 1989; A última quimera, 1995; Amrik, 1998; e Dias & Dias, 2002, que já foi adotado pelo vestibular da UFC, também foram comentados pela escritora e pelos integrantes da mesa.
O escritor Raymundo Netto, que participou da entrevista, destacou a importância de Ana Miranda para a divulgação da literatura cearense no Brasil. Segundo ele, as obras e o processo criativo da escritora precisam ser mais explorados. Para Mayara de Castro, estudante de Letras Português-Espanhol na UFC, a entrevista com Ana Miranda foi uma oportunidade única de adquirir riqueza cultural.
O seminário “América Latina: Bibliotecas” acontece até quinta-feira, 20 [de outubro de 2011], de 9h30 as 12h, no auditório da Reitoria da UFC e no Auditório José Albano. Fernanda Coutinho e Inês Sales, organizadoras do Seminário, destacaram a importância de incluir, pela primeira vez, a literatura na programação do Festival.
Para a Adelaide Gonçalves, historiadora e pesquisadora da UFC, é em momentos como a entrevista que a universidade “se realiza como agente do conhecimento e do saber”. Segundo ela, Ana tem sido “uma das grandes semeadoras da palavra no Brasil”.

Por Alissa Carvalho

Publicado em 17.10.201

http://www.festivalufcdecultura.ufc.br/index.php/noticias/festival-ufc-de-cultura-homenageia-escritora-cearense-ana-miranda/

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

"Quando o Amor é de Graça X: A Dor que Alivia", Raymundo Netto para O POVO (25.1)



Noite alta num bar em fuzilo de chuva, recente e jovem amigo chegou a chorar de bêbado a dor pela perda da “noiva”, namorada eterna, maior amor de toda sua (curtíssima) vida, desde os 18 aos atuais 25 anos.
Assistindo ao choro, percebia-lhe a lágrima sincera a salgar os enegrecidos coraçõezinhos flechados pelo espeto insensível de churrasqueiro. Respeitando sua dor e dela não compartilhando — meus sofrimentos são bastantes para mim —, aboletou-me à cabeça, sei lá o porquê, a lembrança de um primeiro cheque devolvido. Na época, como ele, era muito jovem para entender a perecibilidade dos sentimentos indesejosos, e cria ser aquilo de injustiça tamanha, “logo eu”, homem correto, honesto, trabalhador, no começo da vida, por um descuido do sistema financeiro, ser vitimado pelo atesto em carimbos de incompetência. Não sabia ainda que pessoas assim são merecedoras (e carentes) mesmo de tais adversidades. Pois sim, o primeiro me voltou como beliscão no orgulho. Em seguida, mesmo mês, mais oito se numeraram àquele, até brilhar-me ante a manhã a notícia esparsa de que parecia ter acontecido uma outra vez... Ora, e daí? Devo não nego, pagarei quando puder e pronto! E paguei, sim, por nunca me gostar do dinheiro alheio. Nunca mais tal coisa me foi de sofrimento e, talvez, por isso nunca mais me aconteceu. Quando todas as dores do mundo parecem encontrar aconchego em nosso peito, tudo se torna mais fácil, calejada a alma, rimos até diante dos pequenos padecimentos.
No cérebro, o "hard disk" da natureza humana, também o Criador engendrou mecanismo similar, que os cientistas denominariam de “Portão de Controle”. O que é isso? As fibras nervosas que transmitem ao cérebro os sinais de dor são como "estradas carroçais", enquanto as que carregam os sinais de pressão e de tato são "pistas asfaltadas". Assim, se no corpo houver algum trauma (pancada, corte, etc), mas tiver muitos "estímulos" velozes de natureza de pressão e/ou de tato (impulsos elétricos artificiais, massagem, acupuntura, dô-in, etc), o cérebro fica tão “lotado” deles de não mais abrir seus "portões" aos vagarosos sinais da dor, que, ao chegar em frente ao portão verão apenas o cachorro sorrir latindo...
A respeito da nunca sofismável e ao mesmo tempo caleidoscópica constatação, ao encontrar, nas minhas madrugadas solitárias, o Mário Gomes, o filósofo das calçadas, ele me parou, olhou torto — não só o olhar torto eu diria, devido à desconjuntura de seu esquadro — e disse: “Raymundo Netto, você é um cara simpático, mas não é feliz. Para o artista não é fácil ser feliz, mas você pode conseguir... Pode... Mas tem que cair no fundo do poço primeiro para saber o que é a felicidade.” No fundo do poço, repetiu.
E foi no intervalo desse pensamento que o etílichato amigo, diante da minha aparente insensibilidade, e com anseio de atirar em mim o pouco de sua ingênua tragédia pessoal, sentenciou: "Você não sabe o que é amor, Raymundo, por isso nem liga".
Sorri, com a mais absoluta despretensão diante daquele seu grande e podre amor, e comprovei que o que quero para mim é tão maior que não cabe dentro dele nem um nome.

Raymundo Netto. Contato: raymundo.netto@uol.com.br


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Lançamento e entrevista “Reisado Cearense: uma proposta para o ensino das africanidades”, de Cícera Nunes, no CCBNB (25.1)



Programa Troca de Ideias do CCBNB apresenta

“Reisado Cearense: uma proposta para o ensino das africanidades”
da Profa. Dra. Cícera Nunes

Data: 25 de janeiro de 2012 (quarta-feira)
Horário: às 18h30
Local: Centro Cultural Banco do Nordeste (rua Floriano Peixoto, 941, Centro)
Mediadora: Paula Izabela
Editora: Conhecimento


Sobre o Evento:
Um panorama do reisado expondo os fatos desta prática social organizada pelos brincantes, acompanhado de uma análise desse festejo que compõe a diversificada identidade cultural brasileira. Entrevista seguida pelo lançamento e sessão de autógrafos do livro, fruto da pesquisa acadêmica e da experiência pessoal da autora nas questões históricas e culturais africanas/afrodescendentes no que se refere às conquistas do povo negro brasileiro.


Sobre a Autora: Cícera Nunes é pedagoga e especialista em Arte-Educação pela URCA, mestre e doutora em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará/UFC. Lecionou nas universidades federais de Alagoas e de Campina Grande, sendo hoje efetiva na Universidade Regional do Cariri/URCA.


Apoio Cultural
Centro Cultural Banco do Nordeste

Lançamento de Lourdinha Leite Barbosa no Bazar das Letras do SESC (31.01)



O Projeto Bazar das Letras do SESC Fortaleza recebe como convidada a escritora Lourdinha Leite Barbosa que participará de entrevista e lançará seu livro de contos “Pela Moldura da Janela & outras histórias”, ganhador do VI Edital de Incentivo às Artes da SECULT.

Data: 31 de janeiro de 2012 (terça-feira)
Horário: às 19h
Local: Galeria do Teatro SESC Emiliano Queiroz (av. Duque de Caxias, 1701 — em frente ao DNOCS)
Entrevistador: Carlos Roberto Vazconcelos


Sobre o Livro:

Em cada novo conto, transparece sua habilidade de construir personagens, desembaraçar mistérios e desenredar sentimentos. Sua matéria-prima são as vivências e as relações dos sujeitos com seus objetos internos e externos.

Beatriz Jucá, psicóloga

Em síntese, os contos desse livro são a aventura do humano. Os aparentemente pequenos – no entanto, intensos – dramas existenciais motivam os enredos, fornecem o tom com que se revestirá cada narrativa.

Laéria Fontenele, psicanalista e professora da UFC

É principalmente a alma feminina que se encontra no centro das atenções da autora: é a grandeza trágica da condição de ser mulher (...) Quase sempre uma mulher que luta e encontra uma saída e um novo motivo para continuar a viver. É justamente nas narrativas que expressam a condição feminina que a sensibilidade criadora de Lourdinha Leite Barbosa mais se patenteia.

Vicência Maria Freitas Jaguaribe, Professora da UECE


Sobre a Autora: LOURDINHA LEITE BARBOSA é Mestre em Literatura Brasileira e professora da UECE. Membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste e da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes (AILCA). Tem contos, ensaios e artigos publicados em antologias, jornais e revistas especializadas.
Publicou: Protagonistas de Rachel de Queiroz: caminhos e descaminhos (ensaios, cuja 2ª edição foi publicada pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, série Panorama Nacional, Coleção Nossa Cultura); A arte de engolir palavras (contos) e organizou, com Cleudene Aragão: 100 Anos de Rachel de Queiroz: vida e obra.

Apoio Cultural
SESC
Secretaria da Cultura do Estado do Ceará



sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

"Pesadelos do Além", crônica ainda não psicografada de Ricardo Kelmer para o blogue do Kelmer, claro



Nada pode ser mais aterrorizante pra um escritor que a seguinte situação: dia do lançamento de seu novíssimo livro, ele sentado na mesinha, o lugar todo preparado, a pilha de livros em espiral, o fotógrafo ao lado pra registrar as presenças ilustres... e ninguém aparece. Putz, que horror!
 
Acabo de descobrir, porém, que existe um pesadelo bem pior. Não, não falo desses textos com falsa autoria que analfabetos literários repassam aí pela internet, matando o escritor de vergonha por ver que milhares de pessoas acham mesmo que ele escreveu aquele texto horroroso. Isso é de lascar mas nesse caso pelo menos podemos ir à tevê e nos defender.

O pior pesadelo pra um escritor é ser psicografado. Ou melhor: ser mal psicografado. Putz, me dá uma fininha de nervoso só de imaginar essa possibilidade... Não acredito em Deus mas se um troço desse me acontecer, juro que entrarei com um processo contra ele por permitir uma barbaridade dessa. Espíritos, reencarnação, psicografias, todo mundo é livre pra acreditar no que quiser, até em promessa de político. Mas fazer isso com a pessoa depois que ela já bateu as botas, aí é muita covardia.

Foi dia desses. Alguém me enviou uma letra musical que teria sido escrita por John Lennon depois de morto. A letra era tão cheia de beatitudes e bem-aventuranças, uma pieguice espiritual tão grande, que das duas uma: ou John de repente virara coroinha ou então onde ele estava só rolava fumo da pior espécie. Putz! Só alguém que não conhece porra nenhuma de John Lennon poderia supor que aquela coisa horrenda seria obra dele. Poisbem. Depois desse dia o alerta vermelho foi acionado na Central RK e percebi a gravidade da situação: e se eu morresse e alguém psicografasse uma crônica minha que falasse de seres de luz, jardins celestiais e coisitais? Argh!!!

Mania horrorosa a desse povo, de converter a gente depois que a gente morre. Magali, por exemplo. Além de ateia, Magali sempre foi uma escrota de marca maior e nunca nem botou os pés numa igreja. Aí um dia Magali morre e uma semana depois, no centro espírita, recebem uma mensagem dela: Queridos paizinhos, amada irmãzinha, que a graça de Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo ilumine vossos corações e... Como é? Amada irmãzinha?! Mas um dia antes de morrer ela queria decapitar a irmã e jogar a cabeça no lixão! Vossos corações?! Mas Magali não tinha nem primeiro grau completo! Então ela, além de se converter e virar santa assim que morreu, ainda fez um supletivo de português? Não, isso é demais.

Imagino que nesse ponto do texto haja algum espírita indignado comigo. Paciência. Particularmente, pra mim faz sentido que após a morte haja algum tipo de continuação da vida ou que, após morrer, o cidadão desperte e entenda que tudo foi uma viagem de LSD mucho loca, sei lá. Mas psicografia? Bem, isso até poderia ser interessante caso a vida pós-morte fosse tão tediosa que a única diversão de um escritor como eu se resumisse a ditar contos de sacanagem pro seu público encarnado. Mas acho que ainda não existe centro espírita moderninho assim pra topar receber esse tipo de cartinha.

Então quero desde já deixar claro, claríssimo, que eu, Ricardo Kelmer, terráqueo nascido em 1964 na província de Fortaleza Desmiolada de Sol, atribuído da autoridade a mim concedida por eu ser eu mesmo, e de plena posse de minhas faculdades mentais, não, melhor tirar essa última parte, eu não autorizo ninguém, absolutamente ninguém, a psicografar, psicoaudializar ou canalizar ou receber seja como for quaisquer textos de minha autoria, na íntegra ou em parte. Heim? Não, nem mesmo se o texto for de sacanagem. Não dá pra abrir exceções pois não terei como criar um grupo de avaliação pra autenticação autoral. Ninguém tá autorizado e pronto. E quem disser que recebeu, meus representantes legais poderão processar o engraçadinho.

Ufa! Agora já posso partir em paz. Mas... e se um dia eu, lá dos cafundós do Além, sentir uma vontade danada de escrever um novo livro? Como farei se ninguém estará autorizado a psicografar? Não tem problema: escreverei o livro e darei um jeito de publicar no Além mesmo, não se preocupem, até porque por essa época certamente alguns leitores meus já estarão por lá. Mas novos leitores desencarnados serão sempre bem-vindos, claro! Afinal, já pensou eu, sentado na mesinha do Além, a pilha de livros toda linda em espiral, a equipe de tevê do CulturAlém a postos... e ninguém aparece? Que horror!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

"Origens", de Pedro Salgueiro para o jornal O POVO (17.1)



Dentro da comemoração dos 70 anos de minha mãe Geni, planejamos (eu e o primo Mileno) uma viagem aos vilarejos onde ela e, claro, os irmãos e meus avós maternos nasceram e viveram suas infâncias, na primeira metade do século passado.
Teríamos que enfrentar estradas carroçáveis num ziguezague danado pelo semiárido quase desértico entre os municípios de Tamboril, Independência e Boa Viagem: um recanto do mundo pouco habitável, com raríssima água disponível e população cada vez menor. 
Juntamos mais alguns primos, minha companheira Ana e minha irmã Geyna, os tios José e Gilberta e rumamos na sexta feira, 13 de janeiro, em dois carros rumo às nossas origens. A última vez que minha mãe e sua irmã haviam andado por aquelas bandas tinha sido há mais de 50 anos, quando ainda eram mocinhas e nossa família fazia pela primeira vez o caminho (sem volta) da zona rural para a pequena cidade de Tamboril. 
Mal deixamos o Bairro das Pedrinhas e atravessamos o Cercado do Estado na direção do Bom Tempo ela foi adquirindo uma ansiedade própria das crianças que dão os primeiros passos: os olhos, entre arregalados e lacrimejantes, iam se recordando milagrosamente de coisas nas quais nunca mais haviam pensado, tocado, olhado desde suas meninices distantes. 
Na Fazenda Cilista foram, os irmãos emocionados, se recordando das primeiras descobertas da infância, das brincadeiras nos terreiros em noites de lua, naquela enorme casa de reboco milagrosamente preservada em tudo: na janelinha para o oitão onde um irmão empurrou o outro em 1957, nos armadores (que eu nunca havia visto nem imaginado iguais) de galhos de árvores parecendo cotovelos de madeira torta saindo das paredes em que armavam as muitas redes, na camarinha escura onde a irmã Núbia falecera de apendicite, no quartinho de bodega do avô Chico Inácio, na linha do teto onde numa noite de chuva com vento caiu um raio, que abriu um enorme buraco no teto e encheu de espanto a imaginação dos pequenos. 
Tudo isso narrado pela memória prodigiosa do tio José. 
Fomos saindo de lá e retomando a estrada de pura terra e poeira como se andássemos sobre nuvens, as cabeças distantes no tempo em que apenas animais atravessavam aquelas paragens ermas, percorrida mais por anuns e raros galos de campinas. Logo avistamos, da passagem do mata-burros, por sobre o açude em que minha mãe um dia quase se afogou, a localidade de Oliveiras, onde viveram por muitos anos e nasceram alguns dos vários filhos. O casarão mais que centenário em que meu avô foi criado, as três casas (uma só já caída) em que habitaram, lá ouvi pela milésima vez a famosa história dos quatro assassinatos por vingança da morte do Velho Dionísio (o lendário Jumentão da Maravilha), acontecidos na bodega de meu avô Chico Inácio.
De lá rumamos, depois de conversarmos um pouco com o quase centenário Chiquinho Flor, para a Curimatã. Então visitamos a casa dos Diogos e suas velhas fotografias nas paredes protegendo a solidão de Rosa, que me presenteou com uma boneca de sua infância: “Você tem filha? Leve pra ela, eu fiz quando era criança...”. Em cada alcova ainda os suspiros dos mortos. Como que por encanto pularam a cerca, vindos de um brocado atrás da casa, os irmãos Antônio (e sua nobre Guerreira) e Chico. Eu fiquei sem saber se eles eram reais ou somente visagens, na dúvida chamei os outros para que fôssemos logo procurar a Cruz de Zé Guilherme, morto (lá para as bandas do São Francisco) em 1928, a mando do Velho Dionísio, que por sua vez fora assassinado 32 anos depois de maneira semelhante dentro de sua fantasmagórica casa (fato que desencadeou a vingança, já citada, dos quatro assassinatos na bodega de meu avô). 
Precisaria de um livro inteiro para descrever todas as emoções que senti, através de meus próprios olhos e dos de meus familiares, nessa simples (mas profunda) viagem de regresso.
Voltamos para Tamboril cobertos de poeira e de sonhos, certos de que nunca mais seríamos os mesmos.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

"Ano Novo", de Pedro Salgueiro para O POVO (4.1)



I – O calendário, o relógio e o mapa

Bendito seja o calendário com suas pausas e marcos fictícios. Sem ele enfrentar a vida seria uma tarefa inglória: um mar sem fundo, um sertão sem serras...

Dizem que se não tivessem dividido a construção da Muralha da China em diversos blocos bem distantes uns dos outros nunca os trabalhadores teriam terminado a monumental obra.

A lonjura das montanhas a serem enfrentadas faria muitos desistirem, se suicidarem.

Grandes ideias do homem essas de inventar o calendário, o relógio e o mapa.

***

II - Marco zero

Gosto de iniciar o ano em meu marco zero, em meu ponto de partida. Passei do dezembro para o janeiro durante dois terços de minha vida na minha cidade natal, na minha pequena Tamboril, no pé da Serra das Matas, sentado na varanda de nossa casinha no Alto das Pedrinhas, de onde se escuta o badalar do sino da Igreja de Santo Anastácio durante a missa do galo (e com alguma ajuda do vento ouvimos perfeitamente alguns trechos da pregação).

Gosto de iniciar o ano lembrando meu pai, que por sua vez adorava passar recordando os seus familiares desaparecidos. Sentado em sua cadeira de balanço, fumando seu Continental sem filtro e coçando mecanicamente a velha cabeça.

Rezava de longe suas orações, mas bem distante das igrejas e dos padres, como sempre preferiu (e mais perto de Deus, como gostava de dizer).

***

III – Feliz 2012

Hora, sim (por que não?), de arrependimentos, de promessas, juras e preces.

Momento certo de ler um livro só por prazer, de ouvir uma música apenas para lembrar a infância...

Instante útil para se ligar para os amigos (mandar mensagens pelos diversos meios) e dizer que gosta muito deles e que desejaria continuar contando com todos eles nessa nova jornada que se inicia.

Até para se escrever essa singela croniquinha somente para desejar a todo mundo um Ano Novo repleto de felicidade, saúde, paz e prosperidade.

A todos, pois, um Feliz 2012!

Curso de Autoconhecimento e transformação pessoal: "O Eneagrama e os Eneatipos de Personalidade"



Primeira Turma em Fortaleza com ALAOR PASSOS
Presidente da Associação Brasileira de Eneagrama
Instituto EneaSAT do Brasil

Inscrições Abertas!
     
O que é ENEAGRAMA?

O Eneagrama é um mapa de autoconhecimento originário da tradição do sufismo que explica, em profundidade, a formação de nove tipos de personalidade (eneatipos), indicando a origem de cada um, seu desenvolvimento e o caminho a percorrer para evolução do ser.
Apresenta-se como uma poderosa ferramenta de auto e mútuo conhecimento proporcionando a melhoria da autoestima e o cultivo de relações interpessoais saudáveis e autênticas.

Qual deles será o seu tipo de personalidade?


OBJETIVO do Curso: Compartilhar com os participantes conhecimentos básicos do Eneagrama e como estes podem auxiliar no processo de autoconhecimento transformador a partir da compreensão de como formamos, ainda na infância, nossa personalidade e como perpetuamos  estratégias infantis condicionadas e repetitivas expressas em comportamentos que limitam o pleno desenvolvimento do nosso potencial, causando sofrimento e degradação de nossas relações.

PROGRAMA:

·         Conceito, Histórico, Pressupostos do Eneagrama daPersonalidade
·         Aplicação, Objetivos e benefícios do Eneagrama
·         Características Centrais dos 9 (nove) eneatipos
·         Centro Motor, Centro Emocional e Centro Intelectual
·         Identificando as Paixões e Fixações dos eneatipos
·         Diagnóstico (identificação) dos eneatipos

PÚBLICO ALVO: Profissionais da área de humanas, da saúde, da educação e de recursos Humanos, além de gestores executivos interessados em aprofundar  seus conhecimentos sobre a personalidade, bem como todos aqueles comprometidos com o seu processo de autoconhecimento, transformação e evolução.

METODOLOGIA: aulas teórico-vivenciais com foco em dinâmicas integrativas e disposição em painéis.

CARGA HORÁRIA: 20 horas/aula
DATA: 8,9 e 10 de março de 2012
LOCAL: Tempo Livre: espaço de consciência corporal e ancestralidade africana (rua Magistrado Pompeu, 385, Cocó – Fortaleza, Ceará)
HORÁRIO: Dia 8 (18h30 às 22h30) - dia 9 e 10 (8h30 às 18h30)

FACILITADOR: Alaor Passos é sociólogo e professor sênior da Universidade de Brasília/UnB. Foi funcionário internacional das Nações Unidas, lotado na CEPAL, em Santiago, Chile, e no ILPES, no México. Assessor da OECD, em Paris. “Visiting Scholar” no Peace Research Institute, Oslo, Noruega, 1968, com publicações em revistas locais especializadas. Introduziu o estudo da Psicologia dos Eneatipos no Brasil no princípio dos anos 80. Discípulo de Cláudio Naranjo desde então. Ensina à luz do Eneagrama nas principais capitais brasileiras desde 1992. Já ministrou cursos na Austrália, Chile, México, Colômbia e Itália e participou de Congressos Internacionais na Espanha, França e Estados Unidos. Membro da equipe internacional de terapeutas da Escola SAT, organiza e coordena suas atividades no Brasil como representante de Cláudio Naranjo. Fundador e diretor do Instituto EneaSAT do Brasil e membro fundador da IEA Brasil - International Enneagram Association.

INVESTIMENTO|FORMA DE PAGAMENTO 

·         À vista: R$ 385,00 até 20.02.12, após essa data R$ 410,00 
·         2 X R$ 215,25 (R$ 430,50)
·         3 X R$ 150,33 (R$ 451,00)

CONTATO/INSCRIÇÂO (Vagas Limitadas)
Wládia Medeiros (psicóloga)
(085) 3236.4160/ 8864.8272/ 9970.4668


REALIZAÇÃO

Frequência Positiva
Instituto de Psicologia e Desenvolvimento Humano
www.frequenciapositiva.com.br

INSTITUTO ENEASAT DO BRASIL

PARCERIA

Casa do Sentir

Grupo SEHR
educação e desenvolvimento

domingo, 15 de janeiro de 2012

"La Martiniana", trilha sonora de meus pensamentos caboverdianos


Quando estava em Cabo Verde, gostava de deitar-me cedo, embora isso não garantisse que dormiria. Meu consolo: torcia para amanhecer logo e ver o mar da varanda do quarto onde estava. O vento era frio e o calor do sol brilhava com maciez. Encostado no parapeito via o mar, tão importante a esse povo insular, numa dança única, a brincar com as pedras negras que desabrolhavam. Imagem linda. Ao fundo, "La Martiniana", que eu ouvia quatro, cinco, dez vezes seguidamente. Minha alma se encantava. A seguir, a música e a letra.



Niña, cuando yo muera
no llores sobre mi tumba;
cántame lindos sones, mi mamá,
cántame La Sandunga.



No me llores, no, no me llores no;
porque si lloras yo peno,
en cambio si tú me cantas,
yo siempre vivo, y nunca muero.

Toca el Bejuco de Oro,
la flor de todos los sones;
canta La Martiniana, mi mamá,
que alegra los corazones.

No me llores, no, no me llores no;
porque si lloras yo peno,
en cambio si tú me cantas,
yo siempre vivo, y nunca muero.

Si quieres que te recuerdes,
si quieres que  no te olvides,
canta sones alegres, mi mamá,
música que no muere.

No me llores, no, no me llores no;
porque si lloras yo peno,
en cambio si tú me cantas, mi vida,
yo siempre vivo, y nunca muero.

"Ivanov", de Tchekhov, na Casa de Juvenal Galeno, em janeiro.


Busto de Juvenal Galeno, hoje, em sua Casa.


Ivanov, o herói negativo da segunda peça escrita por Tchekhov, é um proprietário de terras em decadência. Inerte, vê-se diante de suas árvores sendo derrubadas e não consegue decidir-se entre o amor de sua mulher doente e o da jovem Sascha. A montagem enfatiza as conversas vazias e os diálogos sobrepostos que criam o clima de não-comunicação e que deflagram a decadência da aristocracia rural em fins de século na Rússia czarista.

A encenação de Ivanov pelo Teatro Máquina recria espaços íntimos com platéias reduzidas e próximas da cena, mesmo em espaços com palcos à italiana. Em sua temporada de estréia em João Pessoa, em julho de 2011, foi apresentado para 40 pessoas em um salão de um casarão de engenho, sede do grupo Piollin.

Em outubro de 2011, o grupo passou a ensaiar o espetáculo na Casa de Juvenal Galeno, em Fortaleza, para estrear uma temporada aos sábados e domingos de janeiro de 2012. Devido ao novo formato, o espetáculo será apresentado para um público reduzido de apenas 15 pessoas.


Em fevereiro de 2012 o espetáculo volta, em mini-temporada de quatro apresentações, a ser apresentado em sua versão original no palco principal do Theatro José de Alencar, para uma platéia de 60 lugares dispostos sobre o palco.


Serviço
Janeiro2012: Temporada Juvenal Galeno
Todos os sábados e domingos, às 18 horas
Casa de Juvenal Galeno –rua General Sampaio, 1128 (ao lado dos jardins do Theatro José de Alencar)
Ingressos R$ 20 e R$10 (à venda na bilheteria do Theatro José de Alencar, a partir das 17 horas)

Fevereiro2012: Mini-temporada José de Alencar
Dias 10, 11 e 12 , às 20 horas
Theatro José de Alencar
Ingressos R$ 20 e R$10

Lançamento "Imanência Indígena", de Tito Barros Leal, no Museu do Ceará (17.1)



LANÇAMENTO/Comemoração Dia do Ceará
Imanência Indígena,
de Tito Barros Leal,
coleção Nossa Cultura/selo Panorama Nacional
Secretaria da Cultura do Estado do Ceará

Data: 17 de janeiro de 2012 (terça)
Horário: 18 h
Local: Museu do Ceará (Rua São Paulo, 51 – ao lado da Praça dos Leões)
Mesa Redonda: “Índios do Ceará: história, memória e esquecimento”, com a participação do autor, Tito Barros Leal (historiador, doutorando em História pela Universidade de Lisboa), Francisco José Pinheiro (historiador, doutor em História Social pela Universidade Federal de Pernambuco, atual Secretário da Cultura do Estado) e Ticiana Antunes (historiadora, doutoranda em História Social pela Universidade Federal Fluminense)

Sobre a Obra: Imanência Indígena: integracionismo e invisibilização das populações autóctones do Ceará Colonial, título da série Panorama Nacional da coleção Nossa Cultura da SECULT, chegou-nos com o objetivo de revelar o processo de invisibilização das nações indígenas cearenses, usurpadas de sua condição étnica, que, segundo o autor, tem origem ainda no período colonial e que se intensificou após a adoção do Diretório Pombalino. Por meio de seu estudo, Tito Barros Leal compreende tal ação como um projeto político que tinha interesse, manifestado por meio das imposições religiosas e das normatizações de conduta do branco sobre o indígena, em destruir as populações autóctones do Ceará colonial, e, assim, desmistifica a afirmação de que “no Ceará não se tem índios”. Em Imanência..., o autor se fundamenta em documentos que afirmam a “civilização” dos “selvagens”, aos poucos, “desaparecendo”, alguns recebendo a “qualificação” de homem branco por seu desempenho em atividades de interesse dos dominadores. O livro é estruturado em três capítulos onde se traça um panorama desde o período jesuítico até o governo de Manoel Ignácio de Sampaio. A imposição da fé católica no processo de trocas culturais, o significado dos aldeamentos e a relação entre os missionários e os indígenas, as divergências entre os religiosos e a Coroa Portuguesa, as novas práticas integracionistas, a incorporação dos índios à população colonial como força de trabalho e muitas outras questões esclarecedoras sobre o tema, povoam a Imanência Indígena.

Sobre o Autor: Tito Barros Leal é licenciado e bacharel em História pela Universidade Federal do Ceará - UFC (2003), especialista em Estudos Clássicos pela mesma Instituição (2005) e mestre em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará - UECE (2009). Entre 2009 e 2010 trabalhou na Secretaria de Cultura do Estado do Ceará - SECULT, assessorando a Coordenação de Patrimônio Histórico Cultural - COPAHC e o desenvolvimento do projeto do Memorial da Cultura Popular. Foi professor substituto do Curso de História da Universidade Estadual do Ceará entre 2010 e 2011. Atualmente é doutorando em História e Cultura do Brasil Universidade de Lisboa e bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FUNCAP.

Apoio Editorial
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