Charge de Kayser
Crônica
E o Palhaço o que é?... É Deputado Federal!
Caberia como piada, se fosse, tratando-se de quem vem, todavia é a mais aperta e embaraçosa verdade: o candidato a deputado federal mais votado no Brasil, mas muito, muuuito mais votado, é um palhaço, o cearense que assina (ou não) como “Tiririca”. Fosse ele um benemérito, um artista militante da cultura ou atuante em questões sociais, vá lá... Mas não, não o é. Cumpre apenas a moda de ser mais um famoso em busca do reconhecimento fácil das urnas, pois que no “picadeiro”, às vezes, dilui-se na rivalidade agressiva de estrelas (de)cadentes. O Francisco Everardo Oliveira, noutro caso, certamente não teria tantos votos assim.
Julieta ‘tava lhe chamando, mas quem o elegeu foi o colégio (se diz “colégio” por que ainda estão aprendendo?) eleitoral de São Paulo, que se mostrou mais “moleque” que o Ceará. O que esperar de um estado que elege um Maluf, cuja tal ficha há muito atolou-se em lama, mas que talvez pense (?) como o “lindo”: “pior que tá não fica!” Enganam-se, pois sabemos que há sim espaço para o pior num país que sempre açoitou no lombo desprivilegiado a concentração de renda imoral e a etiqueta da discriminação social.
Acredito que a eleição do abestado Tiririca, deve-se a vários fatores, dentre eles, a ditadura do voto. Como se pode afirmar que votar é um ato de cidadania, quando se é obrigado a fazer isso? Sem liberdade, não há cidadania! Já pensou se votassem apenas os eleitores conscientes e comprometidos?
Por ora, sem preciso indulto, arrastam-se milhões de “votadores”, arremedos de “eleitores”, pelos corredores das zonas eleitorais, PERIGOSOS e resmungosos analfabetos políticos (que nem precisam provar se sabem ou não ler ou escrever para estarem ali), para cumprir com ódio sabe-se-lá-de-quem (mas que é do governo, certamente) a auto-sabotagem corrosiva de seu voto que, não sabe ele, aliás, ele não sabe de nada, pode cair como um tsunami na sua-cabeça-de-todos, mas, por certo, olvidado, o inocente deverá um dia culpar a Deus, ou ao Demônio, pois quem sabe onde começa um ou o outro?... “O que é que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei, mas depois eu te conto...”
E justamente por não sabermos sobre um monte de coisas, entendemos que as pessoas podem — e a boa democracia deve isso garantir — discordar, ter opiniões diferentes, ter crenças que a levem a tecer as mais diversas considerações sobre o mundo e todas as coisas, e nisso reside a beleza da humanidade e a riqueza de nossa cultura. Mas o voto de “protesto”, quando irresponsável, é incompreensível. Quando por “protesto” se votavam em jumentos, elefantes e bodes (como o nosso Yoyô), soava mais civilizado, pois as animálias não eram obrigadas a representar a tão débeis eleitores que, de certa forma, acabavam por se identificar com o eleito, como no caso, o Tiririca.
Ademais, a coisa toda é tão maluca que o próprio Tribunal Eleitoral incentiva: “não esqueçam a cola!”, “levem a cola!”, jogando pela latrina o trabalho de anos de conscientização de nossas “tias” do colégio que nos orientavam a nunca colar...
Claro que nesse momento alguns leitores — apenas uns poucos futuros ex-leitores, espero —, estejam com suas compridas orelhas em pé, escandalizados com meu palavreado tão pouco literário a me apontar, com o indicador sujo, o autoritarismo, a palhaçofobia, o fascismo, o preconceito e outras coisinhas mais que os caluniadores de plantão se não o encontram, criam. Quando os tais caluniadores são escritores, às vezes o fazem com certa graça, pelo menos.
E é com calúnias, meus amigos, que hoje se tempera as mais desesperadas e pobres — ao mesmo tempo milionárias — campanhas eleitorais de todos os tempos. Como seria maravilhoso crer que tanto dinheiro, energia e empenho são empregados pela legítima gana de servir ao povo brasileiro. Ah, se nos fosse permitido crer em contos de fadas...
E por falar em histórias infantis, esta semana, por exemplo, assisti à do candidato tucano (ave que tem, por hábito, pilhar o ninho de outras aves) ao representar, à Gianecchini, uma tragédia deflagrada por suposta agressão de uma “bolinha de papel”. O homem, só passado muito tempo da “colisão”, despertou, colocou as mãos na careca de vidro e, não fosse ele tão arrogante e do BEM (bem cuidado, diga-se de passagem), tomou um helicóptero, dirigiu-se ao hospital, fez uma tomografia (dizem que fez, mas...) e teve até direito a uma confusa explicação de um médico que com as mãos na cabeça dizia como examinara a cabeçorra do paciente, alvo fácil para agressões aéreas. Fico a pensar que tal “estratégia” mirabolante tenha sido urdida — e comemorada a risos — na mente febril de um de seus assessores, pois não creio que um José tão esperto consiga ser tão inábil ator. Para falar a verdade, há tempos, os tais profissionais “assessores”, bacharéis do puxa-saquismo sacramentado, conseguiram acabar com a honestidade, que já não era tão esbanjada, na política.
Não bastasse a “limpeza” exagerada das fotos dos candidatos, por modernos programas de computador, a fim de enfeitar os outdoors com ridículas caras de “Barbie”, os assessores, esses desconhecidos que enricam em eleições, oferecem ao cliente, em troca de vultosas quantias a pagar sabe-se lá com que moeda, fórmulas e estratagemas de garantida vitória e de aceitação de um povo massacrado educacional, econômico e culturalmente. E vendem de tudo: o discurso, o segredo do sorriso (notem que os candidatos falam mal um do outro sem tirar o sorriso e os olhos duros da cara — “olhem no olho do eleitor, não desviem o olhar, não expressem raiva” —, além de insistir sempre: “estamos fazendo uma campanha de nível”, “estamos aqui para falar de projetos”, “vou registrar meu Programa em cartório”), as roupas (para a escolha de suas cores têm estudos fantasiosos que assustariam criancinhas), jingles em ritmos bem populares (leia-se “música chula”) e até os gestos dos candidatos são analisados, reprogramados e transformados em repetidas idiossincrasias eleitorais (trejeitos ao encontrar com os mais simples populares, a leitura da bíblia e a oração com a família sempre linda e feliz, o beijo amoroso na cabeça daquela criancinha que o fotógrafo arrancou da mãezinha...), tudo isso vem em pacote elaborado por qualificados parasitas — têm “expertise” (espertice?), dizem —, um trabalho como qualquer outro é verdade, digno de um pouco de ética e consciência, se sobrar tempo, é claro.
Da mesma forma, a imprensa deu asas a um pseudo-fenômeno de “marinização”, que nada mais foi que o resultado da insatisfação de eleitores com as candidaturas que a antecediam em votos. Ou seja, um voto de “protesto”, para quem não o queria anular. O único mérito da Marina era não estar entre os dois primeiros lugares. E, penso, sorte dela, e de todos nós, não ser a eleita. O seu partido estou Pra Ver igual: partiu verdinho em bandas! E o Gabeira, então? O que é isso, companheiro? Endoidou?
Assim, domingo, já sei: veremos novamente as filas de “votadores” doidos para curtir uma praia, a olhar para o pelotão de fuzilamento diante da maldita cabine de votação. Nela, paciente, votarei no projeto socioeconômico que mudou a cara do Brasil e deu a ele solidez. Lembrarei dos tempos “bicudos” (tucanos, podemos dizer) quando não podia passar um cometa no céu que o Brasil quebrava, se vendia, pedia dinheiro emprestado ao gordo FMI. Hoje, não. Mesmo diante de crises mundiais, mantivemo-nos em pé, sem nos vender em nada, sem dever, ao contrário, emprestando ao tal Fundo. Diferente é assistir ao seu país ser recebido internacionalmente como investidor e não mais como devedor como o era, na famigerada era de FHC e Serra.
José S... ERRA, até no nome, se pensa que somos, no mau sentido, palhaços, afinal, o palhaço o que éééé? É ladrão... ops!, é Deputado Federal.
Perdoem-me a franqueza. Espero que não me fiquem de mal por conta dessa bobagem toda, senão, juro, “eu vou morrêêêê...”
Raymundo Netto que vai votar novamente num 13, com menos barba desta vez. Contato: raymundo.netto@uol.com.br Blogue: http://raymundo-netto.blogspot.com