domingo, 31 de julho de 2011

Lançamento "Padre Cícero Romão Batista e a Família Crajubar", de Laudecy Ferreira (3.8)


Data: 3 de agosto de 2011 (quarta-feira)

Horário: a partir das 19h

Local: rua Ildefonso Albano, 3052, Joaquim Távora (confirmação de presença pelo telefone 3226.3437)

Para aquisição de livros ou contato com a autora: laudecyferreira@gmail.com ou pelo telefone (85) 8702-9122.

Preço de lançamento: R$ 14,99, mas na compra de três exemplares a unidade sai por R$ 9,99.


IMPORTANTE: parte do total do resultado da venda será destinada para o lar Amigos de Jesus, instituição de apoio, acolhimento e assistência a 630 crianças e adolescentes com câncer, cardiopatias e outras doenças graves. (www.laramigosdejesus.org.br)


Sobre a Autora: Maria Laudecy Ferreira de Carvalho é cearense de Nova Olinda. Pós-graduada em Psicopedagogia e Administração Escolar-UVA/URCA. Professora e Agente de Leitura, da Educação Infantil ao Ensino Médio, em escolas públicas e privadas de São Paulo-SP, Juazeiro do Norte, Sobral, Iguatu e Fortaleza. Recebeu Prêmio/Troféu “Empresa Cidadã”, por Gestão Empresarial de Qualidade, Produtividade e Competitividade (FNQ-SEBRAE-GERDAU - Governo do Estado do Ceará – MBC - SESI - FIEC); Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 – Edição Patativa do Assaré/MinC; Participação nos jornais O Povo, Diário do Nordeste, A Folha, A Praça, e nas revistas Brasil + , Iguatu Magazine, Varal do Brasil (Genebra- Suíça), além dos Grupos de Estudos Literários/UFC e Abraço Literário/SESC Participou da Antologia Estações da Palavra-ACE e Cordel As Palavras Mágicas – SESC . É autora de livros didáticos da coleção Aprender Fazer Fazendo, 3 volumes, para educação infantil. Site: www.blogdojuaonline.blogspot.com

terça-feira, 26 de julho de 2011

"Quando o Amor é de Graça III: crônicas de meu Pai", crônica de Raymundo Netto para O POVO

José Pedro Alves da Costa, o Deca


Todos têm — e aí o “quase” é certo — o melhor pai do mundo. Daí, de não tomar tempo alheio a endossar o clichê. Meu pai, José Pedro, pelos amigos o “Deca”, para os colegas o “Costa”, é pernambucano. Sargento do Exército — imitando o pai, cabo mestre-carpinteiro Raymundo —, veio a Fortaleza com 25 anos, onde morou no sobrado da tia Francisquinha, na Padre Mororó. Depois, num baile do extinto clube General Sampaio, conheceu Zenaide, a “Zena”, estudante de odontologia — pioneira entre as mulheres no curso da UFC —, minha não-sabia-ainda mãe.

Em calções, “descobriu” que os filhos gostavam sempre mais das mães, então decidiu ele, na certeza franca de menino, que amaria mais a seu pai. E assim foi.

Conta que o vovô era durão e quando dava a bater em um filho, coisa rara, aproveitava e batia em quem estivesse perto — eram 8 os irmãos — e tivesse lá o seu saldo de palmatória. Já sargento, homem feito, um dia chegou em casa num momento desses e, seu pai, vendo-lhe à porta, disse: “Venha, você, que também não é flor que se cheire!”. Estranhou, mas com devido respeito filial, ainda pediu: “Papai, deixa só eu tirar a farda porque apanhar de farda...”

Meu pai fora de sempre conhecido pelo bom humor, pelas tiradas espirituosas e inteligentes, pela visão leve de vida, pelo cuidado gratuito com as pessoas e pela generosidade com os que estavam à sua volta e dele precisavam. Sem exagero, “pai de todos”, nunca o vi reclamar de nada ou praguejar de coisa alguma, ao contrário, muito prático e sem tempo para queixumes, resolvia tudo numa facilidade que chegava a nos dar, ingênuos por natureza, a impressão de que qualquer coisa no mundo seria possível. Contudo, ainda lembro-me do dia em que levou minha vitrola, presente de Natal, para consertar — veio da loja defeituosa — e a roubaram de seu carro, provavelmente por descuido seu. Chegou em casa, aflito. Eu, a perguntar pela vitrola, e ele, sem me responder, botando a casa abaixo em busca de dinheiro para comprar outra. Minha mãe, guardiã de seu ordenado, entregue inteiro e religiosamente todos os meses, sabendo do ocorrido, o revelou sem vexames para mim e, diante do olhar encabulado de meu pai, assim só o vi desta vez, sentenciou: “Deixa para lá, Deca, ele não devia merecer. Depois compra-se outra.” O que ela fez, sim, anos tarde demais.

Éramos seis crianças, tinha ele uma Kombi. Por isso, dava-se a oferecer carona a todos, e estes se sentiam à vontade de convidar outros, e assim por diante — chegou a dar segunda viagem para “cumprir a lotação”. Em época de pouca legislação, a Kombi saía ruidosa, portas abertas, com panelas, gaiolas e até com bicicleta dentro, distribuindo gente e gargalhadas pela cidade.

Assim também era, de caber todo mundo, a nossa casa: “ovelhas negras” de família, mulher que apanhava de marido, filho que dava trabalho, parente “em trânsito”, gente doente, candidatos a suicidas, empregadas gestantes — chegamos a ter três de uma só vez —, mãe solteira ou rico que ficou pobre, todos acabavam no endereço da Benjamim Barroso. Era quase uma pensão. Até dia desses, mamãe, pessoalmente, fazia o prato, escolhendo a melhor comida para dar aos esfomeados da calçada. Assim como, até há pouco tempo, e isso me faz falta, todos os domingos, seu Costa, olhando para cadeira vazia, dava a tamborilar os dedos na mesa larga da cozinha, feita sobre medida para família grande, e cantava trechinho de música preferida: “Naquela mesa ele juntava gente e contava contente o que fez de manhã/E nos seus olhos era tanto brilho/Que mais que seu filho/Eu fiquei seu fã.”


Raymundo Netto. Contato: raymundo.netto@uol.com.br

Blogue AlmanaCULTURA: raymundo-netto.blogspot.com

Lançamento "Umbanda: Ceará em Transe" e "Festa de Iemanjá", de Ismael Pordeus Jr (11.8)


Umbanda: Ceará em Transe (2ª edição) e

Festa de Iemanjá

de Ismael Pordeus Jr.


Data

11 de agosto de 2011

Horário

a partir das 18h

Local

Museu do Ceará (Rua São Paulo, 51, Centro – ao lado da Praça dos Leões — Fone: 3101.2609/ 2610)


Preço de lançamento:

Umbanda: Ceará em Transe – R$ 10,00

Festa de Iemanjá – R$ 20,00


Apresentação das obras:

Prof. Dr. Alexandre Vale

(Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Coordenador do Laboratório de Estudos da Oralidade da UECE).


ESPECIAL:

"Baia de Umbanda" com os filhos e filhas do Terreiro do Senhor Ogum Megê,

de Mãe Zimar.


Sobre “Festa de Iemanjá”: Em 1978, o jovem antropólogo Ismael Pordeus Jr. fotografou a festa de Iemanjá (dia 15 de agosto) na Praia do Futuro. Os diapositivos ficaram guardados durante trinta e três anos e mantiveram uma qualidade que não se comprometeu com a unidade, com os fungos ou com o manuseio das imagens. A iniciativa de publicar o livro veio dessa descoberta. Então, o Autor escreveu a apresentação que atualiza a festa para o contexto contemporâneo. São ensaios que teorizam e fazem a etnografia do ritual desenvolvido à beira mar de Fortaleza. O livro reúne tempos diferentes, sob a mesmo ótica e a escrita que não deixa de ser acadêmica, baseada que está nos clássicos deste campo, mas que pretende ser acessível a um maior número de leitores, como o pessoal dos terreiros, por exemplo. As imagens (quase oitenta fotos distribuídas em 108 páginas) mostram a festa em seu esplendor, antes da emergência da violência urbana, que fez com que muita gente fugisse das areias da Praia do Futuro, no dia da padroeira de Fortaleza. Trata-se de um rico material acompanhado por uma reflexão profunda do pesquisador e antropólogo Ismael Pordeus Jr.

Sobre “Umbanda: Ceará em transe”: A primeira edição, também integrante da coleção Outras Histórias, lançada em 2006, logo esgotou-se. Obra pioneira sobre a umbanda cearense, contribui para uma melhor compreensão da emergência e para a permanência destes rituais no panorama do Estado. Traz uma entrevista significativa com Mãe Júlia, a portuguesa que instalou um terreiro em Fortaleza, nos anos 1950, e que foi uma liderança na luta para que os cultos deixassem de ser caso de polícia e ganhassem autorização para o seu funcionamento. Fala da Festa de Iemanjá, a maior festa pública destes cultos em nossa cidade, bem como da importância do “Preto Velho”, como curandeiro, com sabedoria de vida e presença constante nas giras, para espanto dos que bradam sobre a inexistência da herança africana entre nós, cearenses. O Autor trabalha também com o que chama de “reetnização” da Umbanda, cujos fundamentos passam a ser reivindicados por etnias indígenas, em processo de reconhecimento e de demarcação de terras. A segunda edição homenageia, em memória, dona Neide Alencar e seu Didi, dois sacerdotes destes cultos que muito contribuíram para a concretização da obra.

Sobre o Autor: Ismael Pordeus Jr. nasceu em Fortaleza, filho do historiador Ismael Pordeus (À Margem de Dona Guidinha do Poço) e de Augediva Jucá Pordeus. Prestou vestibular para Ciências Sociais, mas sua opção foi, desde sempre, pela Antropologia. Interrompeu o curso e viajou para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na José Olympio Editora. Voltou, se graduou e logo ingressou no Magistério Superior (UFC).Fez o dea na França, com Jean Duvignaud, primeiro em Tours, depois em Paris. O Doutorado foi cumprido em Lyon sob orientação de François Laplantine. Estudou o Exu, ponto de partida para suas pesquisas no campo das religiões afro-brasileiras. Defendeu tese de Professor Titular em Antropologia, em 1992, publicada com o título de A Magia do Trabalho (Fortaleza, Secult, 1993), livro que ganhou segunda edição pela editora paulista Terceira Margem, em 2000. Coordenou o Programa de Pós Graduação em Sociologia da UFC. Esteve, por oito anos, à frente do Acordo CAPES-COFEPU, de intercâmbio internacional entre a UFC e a Université Lumière-Lyon2, da qual foi professor visitante em duas ocasiões. Fez Pós-Doutorado em Lyon2 e, nesse período, realizou a primeira pesquisa em Portugal, onde conheceu Virgínia Albuquerque, que se iniciou no Brasil, e montou o primeiro terreiro de Lisboa, protagonista de seu livro Uma Casa Luso-Afro-Portuguesa com Certeza (São Paulo, Terceira Margem, 2000). Publicou, pelo Museu do Ceará, Ceará em Transe (2006), série de estudos sobre Umbanda, com ênfase no contexto onde vive e atua profissionalmente. Aposentou-se da UFC, em 2008, mas continua a fazer suas pesquisas aqui e em Portugal.


Realização

Secretaria da Cultura do Estado do Ceará

Museu do Ceará

Associação de Amigos do Museu do Ceará

sábado, 23 de julho de 2011

"Lysia Bernardes me ensinou o caminho", por Isabel Lustosa, para o Diário do Nordeste

Lysia Bernardes (1924-1991)


O começo de minha vida como funcionária do Ministério da Cultura, entre o final de 1983 e o começo de 1984, foi de duro aprendizado. Passar do ambiente descontraído, alegre e amistoso da universidade - onde eu fora aluna da graduação e depois da pós, dedicando minha vida quase que exclusivamente aos estudos - para o cotidiano tedioso de uma repartição pública foi penoso. Estar ali por sua própria conta e risco, sem sua turma, digamos assim, cumprindo jornada diária de oito horas, assinando ponto e tendo que conviver com pessoas que nada tinham a ver com você era uma meia morte. O convívio com algumas almas menores que povoam as repartições, sempre dispostas a lançar armadilhas que te levem a se indispor com os outros foi uma experiência para a qual eu não estava preparada e que me desconcertou. Desenvolvi a maior mania de perseguição. Fiquei quase paranoica.


Hoje atribuo o que senti naquele ambiente à minha falta de experiência, ao fato de ser recém-chegada em um lugar em que era duas vezes forasteira: tanto por não ter nascido no Rio, quanto porque lá já estavam funcionários que ali trabalhavam há alguns anos. A chegada de outros colegas historiadores representou um grande alívio, mas o mundo do trabalho é o mundo do trabalho, e, mesmo entre estes, não se está livre da competição. Um colega ambicioso (de pobres ambições) que chegara logo depois de mim, tentou, a todo custo me indispor com o chefe e quase conseguiu. Felizmente, eu já tinha adquirido algumas estratégias de defesa. No entanto, foi em meio a esse choque com a realidade da natureza humana que fui alvo da ação mais generosa e desinteressada de toda a minha carreira.


Eu me dispusera a organizar um seminário chamado "Bairros do Rio: em busca de uma identidade" mas, sem nunca ter organizado algo no gênero, não sabia por onde começar. Não sei por quais caminhos entrei em contato com a professora Lysia Bernardes, um dos maiores nomes da geografia no Brasil de então e ela se dispôs a me dar algumas dicas. Ela foi me encontrar no Museu, sentou-se a meu lado na minha mesa e começou a arrolar os nomes dos melhores pesquisadores, nas mais diversas áreas, que estudavam o Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que ouvi falar no então jovem geógrafo Maurício Abreu, e nos arquitetos Carlos Nelson Ferreira dos Santos e Sergio Lordello (os três, aliás, precocemente desaparecidos), além de outros nomes que, juntos, formavam um elenco de gente da maior competência. O que fez daquele primeiro seminário um grande sucesso, merecendo ampla cobertura da imprensa.

Não me lembro se agradeci devidamente à Profa. Lysia Bernardes pelo que tinha feito. Poucos anos depois, em 1991, ela e o marido, o também geógrafo Nilo Bernardes, morreriam em um acidente de carro. Na verdade, só o tempo é que me fez perceber o quanto seu gesto foi generoso e desprendido. Ela era uma intelectual nacionalmente conhecida; fora até o Catete encontrar uma jovem e inexperiente pesquisadora que ela nunca tinha visto antes e fornecera-lhe a lista de todos os seus contatos, com as informações valiosas sobre de que maneira cada um deles poderia contribuir. Informações tão valiosas que, muitos anos depois, ainda me são úteis.


Essa história me veio à lembrança por conta de ter sido questionada por indicar pessoas para coisas que acho que são indicadas mesmo que elas não correspondam na mesma medida, ou seja, me indicando também. Entre os nomes que costumo sugerir para publicações, seminários, etc. há mesmo um colega, pessoa competente e agradabilíssima, que não prejudica nem fala mal de ninguém, mas que não compartilha informação nem de nome de mecânico de automóvel. É de uma sovinice total em conceder qualquer dado a um colega: um texto interessante que seja relacionado ao assunto com que o outro está trabalhando; a localização de arquivos que ele sabe onde está e que sabe serem fundamentais para a pesquisa do outro; o nome de um autor bom para aquela abordagem; de uma instituição que possa receber um assistente de pesquisa do colega, etc. etc. Essa avareza informativa é tão radical - talvez já seja até uma mania - que chega a ser paralisante e contribui para seu isolamento, pois, ele nunca organiza seminários para não prestigiar colegas e também para não revelar seus contatos.

Eu não. Eu indico, sugiro, insisto nos nomes que acho bons. Gosto de compartilhar esse tipo de informação. Por quê? Não que eu seja uma criatura desprendida e que não guarde mágoas de pessoas que não foram muito legais. Aliás, essas, confesso, prefiro não indicar. Mas, porque acho que isto faz parte da economia das trocas simbólicas, para usar uma expressão que aprendi quando queria ser antropóloga. Melhor dizendo, isso faz parte da economia das relações pessoais. E esse tipo de partilha de conhecimentos tem retorno. Nem todo o mundo é como meu colega, avaro de informações. Se nem todos são generosos como Lysia Bernardes, muitos gostam de fazer esse intercâmbio que é muito bom para a renovação da cena intelectual.


Quando indico nomes penso também na qualidade do produto que pode resultar dessa minha indicação. Pois tem tanta coisa medíocre tida como boa circulando por aí, tanto falso talento ou talento de superfície sendo incensado que o que eu puder fazer para que pessoas e trabalhos bons tenham maior visibilidade e chance de reconhecimento, farei. É a minha modesta e desinteressada contribuição para a melhoria da qualidade da vida intelectual no mundo em que vivemos.

Apresentação banda Jardim Suspenso, no Dragão do Mar, 24.7

Foto: Carlos Gadelha


Apresentação da Jardim Suspenso:

Projeto Domingo Musical, 24 de julho, às 18h, no auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

Ingressos: R$ 2,00 e R$ 1,00


Sobre o show: Protagonista do movimento tropicalista e artífice de uma das mais importantes bandas de rock do Brasil, Os Mutantes, nos anos 60, Rita Lee, foi porta-voz de uma geração contestadora, revolucionária dos costumes, abriu caminho para o rock nacional, pôs em pauta o papel da mulher e as questões pertinentes a este universo. Ao deixar Os Mutantes em 1972, Rita prometeu a si mesma que seria uma das maiores estrela do pop brasileiro.


E foi andando sem pensar em voltar e sem pensar no que aconteceu. Assim, fez parte da banda Tutti Frutti, realizando discos e sucessos como Agora Só Falta Você, Ovelha Negra, Corista de Rock, Luz Del Fuelgo, Esse Tal de Roquem Enrow, dentre inúmeros sucessos.


As atitudes marcadas pela ousadia, pioneirismo e inovação a consagraram como a Tia do Rock Nacional, e até figurando em sétimo lugar na Billboard. São as marcas da Zorra que lhe renderam canonização como Santa Rita de Sampa e completa tradução de São Paulo ao longo de mais de 40 anos de carreira.


Assim, diante da enorme contribuição e desta construção musical, a banda cearense Jardim Suspenso, formada em março de 2010, faz releitura da obra de Rita Lee, focando a fase mais roqueira da cantora e de sua ex-banda, Os Mutantes - repleta de personalidade de seus integrantes. Embora façam tributo à roqueira paulista, a banda não se limita apenas a esta proposta.


O grupo formado por músicos experientes na cena musical cearense:


Joanice Sampaio (voz): Jornalista, compositora, escritora, produtora cultural e integrante do grupo Urbanóides Poemas, pesquisadora musical focando a música cearense. Participou de festivais, integrou a Contrabanda, banda que se apresentava em calouradas. Já se apresentou em shows em que participaram nomes como Blues Label, Karine Alexandrino, Lupe Duailibe, Helô Sales e Alyne Costa. Participou como palestrante convidada da mesa-redonda sobre revistas produzidas no Ceará, na IX Bienal Internacional do Livro do Ceará. Também produz o músico Pingo de Fortaleza, a cantora Jord Guedes e os projetos do músico Carlinhos Perdigão.


Pedro de Farias (guitarra): Acadêmico de Música da UECE, integrou a banda Mafalda Morfina e Ênfase, The Doors Cover.


Victor Fontenele (baixo): Integra as bandas Blues Label, Zepellin Blues, Sabbatage e Hard Volts. Acadêmico de Música da UECEe professor de Música do colégio Antares.


Carlinhos Perdigão (bateria): Professor, músico e escritor integra a banda Zeppelin Blues e o grupo Urbanóides Poemas. É mentor dos projetos Bateria Brasileira, Poesia, Blues e Rock´n Roll, Força Tropical e Meu Canto. Tocou com nomes como Manassés, Lúcio Ricardo, Téti, Isaac Cândido, Marta Aurélia, Tino Freitas, com o guitarrista mineiro Alexandre Araújo e com o gaitista Jefferson Gonçalves, da banda carioca Baseado em Blues.


CONTATOS

Joanice Sampaio

8784 1741/9109 1706

MSN: garagem74@hotmail.com/

E-mail e Gtalk: joanicesampaio@gmail.com

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Lançamento "Sociabilidade e Cultura das Elites Sobralenses (1880-1930)", de Elza Marinho, em Sobral (2.8)


Sociabilidade e Cultura

das Elites Sobralenses


de Elza Marinho Lustosa da Costa


Série Panorama Nacional da coleção NOSSA CULTURA da

Secretaria da Cultura do Estado do Ceará

Data: 2 de agosto (terça-feira)

Horário: a partir das 19h30

Local: Biblioteca Municipal de Sobral – Lustosa da Costa

Para contato com a autora:

elzamarinho@uol.com.br


Sobre a Obra: Sociabilidade e Cultura das Elites Sobralenses (1880-1930), obra da socióloga e historiadora sobralense Elza Marinho Lustosa da Costa, a partir de sua tese de doutorado em História Social defendida junto ao Programa de Pós-graduação do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em maio de 2002, para apresentação no Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB), em 20 de julho de 2005, integra agora a série Panorama Nacional da coleção Nossa Cultura, da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará.

A pesquisa de Elza Marinho teve como eixo a análise da “cultura de elite” sobralense, concentrando-se, em especial, nos domínios político, religioso e da vida mundana, na tentativa de descobrir como ela pode tomar formas específicas na cidade e como foi apreendida por suas elites. O estudo cobre o período que vai de 1880 (em 1881 inaugurou-se a estrada de ferro Sobral - Camocim, símbolo do prestígio das classes políticas locais) a 1930 (em 1932 inaugurou-se a rodovia Sobral-Fortaleza, promovendo o início do declínio de Sobral).

Como fontes principais de estudo, as principais coleções de jornais de Sobral, além das atas das duas maiores confrarias religiosas: Santíssimo Sacramento e Vicentinos.

O livro, dividido em cinco capítulos, tem como referencial teórico o conceito de representações coletivas, estas formas de conhecimento socialmente elaboradas e partilhadas que contribuem para a construção de uma realidade comum a um grupo social. Reconstitui a história de Sobral desde as suas origens, fornece os elementos do quadro sociocultural da cidade, discute o povoamento da região onde Sobral se situa e analisa as condições de formação das famílias que compõem as elites sobralenses.

O trabalho também examina detidamente a Imprensa local, desvenda a natureza de suas atividades jornalísticas.

Na obra percebe-se o esforço da historiadora em reconhecer os canais de formação e desenvolvimento da “cultura de elite” e, nesse sentido, o estudo da educação constitui elemento fundamental, assim como o teatro, as práticas de leitura e outras produções culturais. A Imprensa, conforme já assinalado, constituiu ainda outra manifestação útil para definir a identidade das camadas mais elevadas da hierarquia social de Sobral.

Obviamente, para construir toda essa análise, Elza Marinho buscou Sobral desde seu início e retratou a pecuária e a ação da igreja como fatores determinantes do surgimento e consolidação dos primeiros núcleos urbanos; fatos históricos como a elevação da antiga Vila de Caiçara à cidade de Sobral; o domínio de Sobral no comércio regional e diante das cidades de entorno; a formação da “cultura de elite” sobralense (inicialmente composta por proprietários rurais e membros da Igreja) e dos novos hábitos, atitudes e comportamentos emergentes e de autopromoção na virada do século XIX para o XX; as noções positivas que as elites tinham da cidade e delas mesmas no papel da classe protagonista desse processo; os mitos criados, a representação do mundo e a consolidação da cultura de elite de Sobral.

Elza Marinho Lustosa lembra, porém, que o livro não pretende ser mais uma apologia das glórias do passado sobralense. É, antes de tudo, uma visão realista, crítica e emancipadora da história local. É uma tentativa de compreender os movimentos contraditórios que contribuíram para o apogeu e a decadência de uma praça-forte. É uma leitura de um processo de transformação que foi da glorificação à consciência, construída a partir do trabalho continuado e persistente de muitos historiadores.

Enfim, um livro que certamente contribui na construção de nossa historiografia e na compreensão da formação de nosso povo cearense.


Sobre a Autora: Elza Marinho Lustosa da Costa nasceu em Sobral. É formada em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará/UFC (1978), com especialização em História (UnB, 1992), mestrado em Histoire et civilisations (École des Hautes Études em Sciences Sociales, de Paris), doutorado em História Social (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro ) e atuou como professora de Sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Atualmente, reside no Rio de Janeiro e é professora do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro/Universidade Cândido Mendes.


Secretaria da Cultura do Estado do Ceará

"Quando Meu Amigo Lúcio Flávio se Foi", crônica de Pedro Salgueiro para O POVO (20.7)


Uns choraram feito crianças (um merecido choro), afinal tinham perdido um amigo daqueles que não se encontra em calçada alta.

Outros reclamaram de Deus, por ter levado tão cedo uma alma tão boa, ensaiaram pequenas blasfêmias.

Alguns, ainda, ficaram taciturnos pelos cantos, emburrados pelos cantos, reclamando pelos cantos, lamentando pelos cantos, calados...

Eu, por minha vez, preferi fingir que ele ainda tá por aí: trabalhando, em sua mesa impecável de rapaz velho cheio de manias e humores, na Justiça Federal da Aldeota, ou bisbilhotando as coisas de seu querido (e um de seus poucos defeitos) Ceará Sporting Club, ou indo de vez em quando ao “sebo” do Geraldo na 24 de Maio procurar um livro que emprestou para um amigo (e que se esqueceu de lhe devolver), ou mesmo deitado em sua rede na varanda em frente ao “tanque”, olhando calmamente a Rozi aguar os flamboyants do jardim.

Tanto é verdade que guardo ainda em minha agenda seus dois números de telefone, seu livro rabiscado com uma dúvida para lhe perguntar, e vez por outra releio seus últimos e-mails.

E (prometo, amigo!) qualquer dia desses respondo aquele em que você me confiava um conto falando de como tem gente estranha nesse nosso mundinho.

Ou talvez apenas telefone para deplorarmos o baixo nível técnico de nosso futebol.

Ou, quem sabe, não apareça mesmo por aí para bater um papo com você e o Bivar.


P.S.: Lúcio Flávio Holanda Chaves escreveu um livro sobre o Ceará Sporting Club, Um Retrato Branco e Preto, assim como organizou a revista comemorativa dos 95 do alvinegro de Porangabussu; já o artista plástico Eurico Bivar deixou um legado também no teatro. Os dois foram mestres nessa difícil arte de fazer amigos.

domingo, 17 de julho de 2011

"Um Lugar Limpo e Bem Iluminado", conto de Ernest Hemingway, tradução de Washington Hemmes


Já era tarde e todos haviam deixado o café, exceto um velho, sentado à sombra – produzida pela luz elétrica – das folhas de uma árvore. Durante o dia, a rua era suja, mas, à noite, o orvalho assentava a poeira e o velho gostava de ficar sentado até tarde porque ele era surdo e, aquela hora da noite era calma e ele sentia a diferença. Os dois garçons do café sabiam que o velho estava um pouco bêbado e, conquanto ele fosse um bom cliente, eles sabiam que, se ele ficasse bêbado demais, iria embora sem pagar, então, eles se mantiveram atentos.

“Semana passada, ele tentou cometer suicídio”, disse um dos garçons.

“Por quê?”

“Ele estava desesperado.”

“Com o quê?”

“Nada.”

“Como você sabe que não era nada?”

“Ele tem muito dinheiro.”

Eles sentaram juntos a uma mesa colada à parede, perto da porta do café e olharam para o terraço, onde todas as mesas estavam vazias, exceto aquela à qual o velho estava sentado, sob a sombra das folhas da árvore, que se moviam suavemente à força do vento. Uma moça e um soldado passaram na rua. A luz da rua brilhou no número de metal do colarinho dele. A moça não usava nada para cobrir a cabeça e apressava-se ao lado dele.

“O guarda vai pegá-lo”, disse um dos garçons.

“Pouco importa se ele vai pegar o que está procurando.”

“Seria melhor ele sair da rua, agora. O guarda vai pegá-lo. Eles passaram há cinco minutos.”

O velho, sentado à sombra, bateu com o copo no pires. O garçom mais jovem foi atendê-lo.

“O que o senhor deseja?”

O velho olhou para ele: “Mais uma dose”.

“O senhor vai ficar bêbado”, disse o garçom. O velho olhou para ele. O garçom se afastou.

“Ele vai ficar aí a noite inteira”, disse para o colega. “Estou com sono. Nunca consigo ir para a cama antes das três. Ele devia era ter se matado mesmo.”

O garçom pegou no balcão uma garrafa de bebida e outro pires e encaminhou-se à mesa do velho. Pôs o pires na mesa e encheu o copo de bebida.

“O senhor devia era ter se matado na semana passada”, disse ele ao velho surdo. O velho sinalizou com os dedos: “Só mais um pouco.” O garçom serviu a bebida até a borda, de modo que ela transbordou o copo e derramou-se no pires. “Obrigado”, disse o velho. O garçom levou a garrafa de volta para dentro. Sentou novamente com seu colega.

“Ele já está bêbado”, disse ele.

“Ele está bêbado todas as noites.”

“Por que será que ele quis se matar?”

“Como é que eu posso saber!”

“Como foi que aconteceu?”

“Ele tentou se enforcar com uma corda.”

“E quem o impediu?”

“Uma sobrinha.”

“E por que fizeram isso?”

“Temor por sua alma.”

“Quanta grana é que ele tem?”

“Muita.”

“Ele deve ter uns oitenta anos.”

“Eu diria que ele tem exatamente oitenta.”

“Eu queria que ele fosse pra casa. Eu nunca consigo ir pra cama antes das três. Isso lá são horas de ir dormir!”

“Ele fica acordado porque gosta.”

“Ele é um solitário. Eu não sou solitário. Eu tenho uma mulher esperando na cama por mim.”

“Ele também já teve uma mulher.”

“A essa altura, uma mulher não faria nenhuma diferença para ele.”

“Não diga isso. Ele poderia estar bem melhor com uma mulher.”

“A sobrinha cuida dele. Você disse que ela o impediu de se enforcar.”

“Eu sei.”

“Eu é que não queria ser tão velho assim. Um homem velho é uma coisa nojenta.”

“Nem sempre. Esse senhor é um homem limpo. Ele bebe sem derramar. Mesmo depois de bêbado. Olhe para ele.”

“Eu não quero olhar para ele. Eu quero é que ele vá embora. Ele não dá a mínima para quem tem que trabalhar.”

O velho olhou a praça através do copo, depois se virou para os garçons.

“Mais uma dose”, disse, apontando para o copo. O garçom que tinha pressa veio atendê-lo.

“Chega”, disse, falando com a falta de sintaxe que as pessoas estúpidas empregam para conversar com bêbados e estrangeiros. “Por hoje, basta. Fechado.”

“Mais uma”, disse o velho.

“Não. Chega.” O garçom limpou a borda da mesa com uma toalha e balançou a cabeça.

O velho levantou-se, contou os pires lentamente, tirou do bolso um porta-moedas de couro e pagou as bebidas, deixando sobre a mesa alguma gorjeta.

O garçom o observou descer a rua, um homem muito velho, andando sem firmeza, mas com dignidade.

“Por que você não deixou ele ficar e beber?”, perguntou o garçom que não tinha pressa. Eles estavam fechando os portões. “Ainda não são nem duas e meia.”

“Eu quero ir pra casa dormir.”

“Que diferença faz uma hora?”

“Mais pra mim do que pra ele.”

“Uma hora não faz diferença.”

“Você já está falando como um velho. Ele pode muito bem comprar uma garrafa e beber em casa.”

“Não é a mesma coisa.”

“Não, não é”, concordou o garçom que tinha esposa. Ele não queria ser injusto. Ele só estava com pressa.

“E você? Você não tem medo de ir pra casa antes do horário habitual?”

“Você está tentando me provocar?”

No, hombre, estou só brincando.”

“Não”, disse o garçom que tinha pressa, interrompendo o trabalho de baixar as portas de metal. “Eu tenho autoconfiança. Eu sou muito confiante.”

“Você tem juventude, autoconfiança e um trabalho”, disse o garçom mais velho. “Você tem tudo.”

“E a você, o que falta?”

“Tudo, menos trabalho.”

“Você tem tudo o que eu tenho.”

“Não. Eu nunca tive autoconfiança, além do que, eu não sou jovem.”

“Dá um tempo. Pára de falar besteira e fecha logo tudo.”

“Eu sou daqueles que gostam de ficar nos cafés até mais tarde”, disse o garçom mais velho. “Junto com aqueles que não querem dormir. Com todos aqueles que precisam de uma luz para a sua noite.”

“Eu só quero ir pra casa dormir.”

“Nós somos bem diferentes”, disse o garçom mais velho. Ele já estava pronto pra ir embora. “Não é só uma questão de juventude e autoconfiança, embora essas duas coisas sejam muito bonitas. Toda noite, eu hesito em fechar porque pode haver alguém que precise do café.”

Hombre, há bodegas abertas a noite toda.”

“Você não entende. Este é um café limpo e agradável. É bem iluminado. A iluminação é boa e, inclusive, tem até a sombra das folhas.”

“Boa noite”, disse o garçom mais jovem.

“Boa noite”, disse o outro. Apagando a luz, ele continuou a conversar consigo mesmo. É a luz, claro, mas é necessário que o lugar seja limpo e agradável. A música nem faz falta. Com certeza, a música não faz falta. Não se pode nem ficar em pé, diante de um bar, com certa dignidade, a não ser que não haja outra coisa a fazer nesses momentos. O que será que ele temia? Não era medo ou terror. Era um nada que ele conhecia muito bem. Tudo não passava de um nada e um homem era um nada também. Era só isso e tudo o que se precisava era de luz e uma certa limpeza e ordem. Alguns tiveram isso e nunca se deram conta, mas ele sabia que tudo era nada y pues nada y nada y pues nada.* Nada nosso que estais no nada, nada seja o Vosso nome venha a nada o Vosso reino seja nada a Vossa nada assim na nada como no nada. Onada nosso de cada dia nos dai nada e nada os nossos nadas assim como nós nada a quem nos têm nada não nos deixei nada em nada, mas livrai-nos do nada; pues nada. Ave nada, cheia de nada, nada é convosco. Ele sorriu e ficou em pé, em frente a um bar com uma brilhante máquina de café a pressão de vapor.

“Qual é a sua?”, perguntou o cara do bar.

“Nada.”

Outro loco mas”, disse o cara do bar e se virou.

“Uma pequena dose”, disse o garçom.

O cara do bar o serviu.

“A luz é muito clara e agradável mas o ambiente não é muito fino”, disse o garçom.

O cara do bar olhou para ele, mas não respondeu. Era muito tarde para jogar conversa fora.

“Você quer outra copita?”**, perguntou o cara do bar.

“Não, obrigado”, disse o garçom e foi embora. Ele não gostava de bares ebodegas. Um café limpo e bem iluminado. Agora, sem pensar muito, ele iria para casa dormir. Ele deitaria na cama e, finalmente, com o raiar do dia, adormeceria. No final das contas, ele disse para si mesmo, provavelmente é só insônia. Muitos devem sofrer disso.



Tradução de Washington Hemmes.

Fortaleza, 1o de março de 2004.


* Pus em itálico a palavra “nada” (do espanhol nada) para diferenciá-la da tradução da palavra inglesa “nothing” (nada). (N. do T.)

** Uma dose, um copo (do espanhol). Talvez seja relevante lembrar que o Autor serviu como voluntário durante a Guerra Espanhola, sendo muito comum em seus textos a referência ao vocabulário hispânico. (N. do T.)


Fonte: blogue http://projetocadafalso.blogspot.com